Subi na árvore, sentei em um galho resistente e fechei meus olhos. Depois de alguns segundos ouvi passos. Mas será que eu nunca teria descanso?!


- No que está pensando, nanica? – perguntou.

Eu realmente não queria abrir meus olhos, mas tive que abri-los forçadamente. Joseph estava me observando atentamente.

- Em como me livrar de você. – olhei-o com desprezo.

- Que ótimo! Só assim ganho mais atenção! – sorriu. – Estou subindo... Espera! Posso?

- Ah, tanto faz. – encostei-me no tronco da árvore e fechei meus olhos novamente.

- Preciso te pedir uma coisa. – Joseph já estava sentado ao meu lado.

- Quê é? – abri meus olhos e cruzei os braços.

- Pode me treinar? Quero te ajudar nessas missões malucas! – seus olhos brilhavam de tanta excitação.

Fiquei séria e olhei para o lado.

- Não. – respondi secamente e voltei meu olhar para o seu. – Você tem noção do quanto isso é perigoso? Não viu o que aconteceu ontem? Por pouco você não morreu. – arranquei uma folha da árvore. – É arriscado demais. Você não sabe o que pediu.

- Está se preocupando comigo, nanica? – fingiu-se de surpreso e sorriu.

- Claro que não! – exaltei-me e corei. – Eu não treinaria qualquer outra pessoa. Além do que, esse “trabalho” é passado de geração a geração. Você é frágil e indefeso.

- Ah, por favor. – Joseph juntou suas mãos e fez olhar de pidão.

- JÁ DISSE QUE NÃO! – desci da árvore somente com um pulo.

Joseph fez o mesmo.

Comecei a caminhar e ele me seguiu.

- Eu lhe protejo se for preciso, Frankie!

Joseph começara a apelar. Mas que saco!

- Não. Você está errado. – virei para poder olhá-lo melhor. – Sou eu quem iria lhe proteger. Faça-me o favor, cara! Mas que idéia maluca! – levantei minhas mãos. – Você pode ter uma musculatura boa, mas não é totalmente forte. Não iria agüentar...

Joseph aproximou-se de mim, olhou-me com aqueles olhos verdes-azuis e ajoelhou-se aos meus pés. Que idiota! Não acredito que ele fez isso!

- Por favorzinho. – segurou minhas mãos.

- MEU DEUS! MAS O QUÊ VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! – afastei-me dele subitamente.

- Ué, tentando algo diferente para ver se eu consigo alguma coisa. – deu de ombros e pôs-se de pé. – E amoleço esse seu coração de pedra. – coçou o queixo, despreocupado.

- Coração de pedra? CORAÇÃO DE PEDRA?! – repeti a mesma pergunta, com a raiva surgindo. – Quem é você para me dizer que eu tenho coração de pedra?! – dei um passo longo até ele e cutuquei seu ombro com força.

Hmm, Joseph era alto. Eu tinha que ficar de cabeça erguida o tempo todo para falar com ele. Era embaraçoso.

- Tudo bem, nanica. – cruzou os braços. – Então vou pedir a Stéph. – levantou as sobrancelhas e fez olhar de zombador.

Minha boca ficou em formato de “O”.

- Ora, seu... NÃO OUSE FAZER ISSO! – gritei. – Você nem a conhece, Joseph! Ela quase matou você ontem!

- Ah, é? Duvida?

- Duvido. D-U-V-I-D-O! – repeti.

- Pois bem. – Joseph virou as costas para mim e começou a caminhar rapidamente.

Ele começara a ficar distante de mim, porque fiquei parada, sem ação. Eu tinha que fazer algo, INFELIZMENTE eu tinha que fazer algo. Então, comecei a andar. Mais rápido depois. Aí, comecei a correr. Quando estava bem perto dele, pulei em suas costas e o derrubei.

Consegui, há-há.

- O que está fazendo, sua maluca? – perguntou, com o rosto sendo pressionado contra o chão.

- Impedindo você de fazer uma besteira. – falei com satisfação.

Mas algo inesperado aconteceu. Em fração de segundos, eu quem estava fazendo-o comer grama, porém, nem percebi quando ele me tirou de suas costas e prendeu minhas mãos no chão com as suas. Era ele quem estava por cima agora.

- Quer, por favor, sair de cima de mim! – mandei, ao contrário de pedir. – Você é pesado, sabia?

- Não é legal atacar as pessoas pelas costas. – o rosto dele estava bem próximo do meu.

- Já me disseram isso, pode acreditar. Mas e daí?

- E daí que algumas pessoas podem revidar. – deu um sorriso maroto.

- Ah, cale a boca, garoto. – desviei o meu olhar do dele.

- Pare de mandar no que devo fazer! – gritou, pressionou seus lábios nos meus e saiu de cima de mim.

Fiquei deitada no chão. Imóvel. Olhei para o lado e percebi o que havia ocorrido. Levantei-me com pressa. Fitei-o com ódio.

- IDIOOOOOTA! – gritei e soquei-o no rosto.

Joseph fechou os olhos após o soco e acariciou o rosto, mas sorriu. Então, abriu seus belos olhos novamente.

Corei, dei-lhe as costas e saí sem olhar para trás. Com os punhos cerrados.

***

Eu estava sentada em um balanço preso a uma árvore do jardim da escola. As aulas do dia haviam acabado, e quando dei por mim, estava cochilando, entretanto, sempre havia alguém para estragar minha “felicidade”. Se bem que, por uma parte, foi bom ter me acordado, porque minhas costas estavam começando a doer.

- Frankie, ô Frankie... – a voz de Sam estava perdida em meus pensamentos. – Frankie, acorda, por favor! – senti-o cutucar meu braço.

- Quê é? – gemi, mas continuei de olhos fechados.

- Precisamos conversar, garota.

- Sobre...?

- O que aconteceu ontem.

Abri um olho e fitei Sam.

- Não quero falar sobre isso. – fechei-o novamente. – Espera aí... Como você sabe sobre o que aconteceu ontem? – perguntei calmamente.

- Joseph me contou tudo! – cutucou minha cabeça. – Eu não acreditei a princípio, mas então associei as mortes que vêm ocorrendo ultimamente, então acabei meio que...

Que garotinho irritante! Abri meus olhos.

– Faça-me o favor! Eu quero matar aquele garoto! – comecei a me balançar, irritada, sem ligar para o que Sam havia dito.

- Calma. Você sabe que ele não fez por mal. Joseph só quer te ajudar, Frank.

- E daí? Já tenho ajuda de Stéph, que eu nem pedi para ter. Não preciso da ajuda dele. Joseph só irá atrapalhar.

- Por falar nela... Você ainda não a apresentou para mim. – olhou-me feito um cobrador.

- E nem vou! Você que se apresente! – parei o balanço e levantei. – Vou para casa.

- Ele gosta de você, Frankie. – disse, sem ligar para o que eu iria dizer.

Abaixei minha cabeça. Eu não queria que Joseph gostasse de mim.

- Só quer se aproximar de você, só não sabe como, porque sempre faz burrice e vocês dois acabam brigando em seguida... – continuou.

- Sam... Pare com isso, tá? Você não irá mudar minha escolha contando mentiras. Então, por favor, pare com isso. – falei, ainda com a cabeça abaixada.

- Mas...

- Já chega! – peguei minha mochila que eu deixara no chão e comecei a caminhar para fora do jardim.

Seja lá o que estivesse acontecendo, eu não queria que nada mudasse, principalmente a “inimizade” que Joseph e eu tínhamos.

- Frankie! Ouça-me. – a voz de Sam virara um sopro, eu não queria ouvi-lo.

Eu já sabia de cor o caminho de volta para casa, por isso preferi ir caminhando. Eu não queria ouvir ninguém, só o som do vento e as árvores balançando dos meus lados. Pus uma mão num dos bolsos da calça e olhei o céu, mas não parei de caminhar, então tombei em uma pessoa e caí sentada.

- Droga! – não quis ver quem era, mas eu queria xingá-la.

- Vem cá, anã. Não olha por onde anda, não? – perguntou Stéph, estendendo o braço para que eu pegasse-o.

Aceitei a gentileza e levantei. Não respondi sua pergunta, eu não estava a fim de conversar.

- Você anda meio que esquisita desde antes de ontem, sabia? Foi por que eu quase matei seu namorado? Olha só, eu não sabia que ele era humano, se eu soubesse, não teria feito aquilo, mas você sabe que ele fez besteira ao ter nos perseguido.

Stéph estava falando demais. Prefiro o mau humor dela, pelo menos não fala tanto.

- Ele não é meu namorado, é só um intrometido pedindo por uma surra. Realmente não sei como ele conseguiu nos alcançar. Estávamos numa velocidade que talvez nem o carro da Lucy conseguisse nos acompanhar. – falei. – Mas o que você está fazendo aqui? – olhei-a e suspirei profundamente.

Tédio.

- Ah, não é seu namorado? Hm, bom saber... Posso ficar com ele? – perguntou.

Acho que minha expressão respondeu sua pergunta, porque ela começou a gargalhar.

- Tudo bem, garota. Foi só uma brincadeira. Os loiros não fazem o meu tipo. – parou de rir e olhou as unhas enormes. – Bem, ao contrário de você, saí do colégio assim que tocou para irmos embora. Francamente, não entendo o motivo de querer ficar por ali até mais tarde... Enfim, então resolvi vir dar umas voltinhas por aqui... Vê se “a barra tá limpa”. – fez aspas com os dedos no ar. – Quando acabei minha monitoria, pulei de árvore em árvore até que vi você feito uma boba olhando para o céu e o resto da história você já sabe. – jogou o longo cabelo loiro para trás e fechou o zíper do moletom. – É melhor irmos para casa. Está ficando frio por aqui. – Stéph começou a caminhar pacientemente.

Segui-a calada.

- Frankie, o que está te preocupando? – perguntou finalmente, sem tirar a vista da estrada.

Não respondi.

- Anda! Não adianta esconder nada de mim. Em determinado tempo irei descobrir mesmo... É o loiro, não é? Mas que pergunta a minha! É claro que é! – deu um largo sorriso para mim.

É incrível como as pessoas mudam. Tive que responder, eu não tinha saída, tinha?

- Digamos que sim. Joseph pediu para que eu treinasse-o, só que eu recusei seu pedido, porque é arriscado demais. Se é para nós, que já somos fortes, imagine para um cara indefeso com ele. – disse eu.

- Desculpe, mas esse Joseph aí não parece ser tão fraco como você imagina. Ele nem se machucou com o soco que dei em sua barriga que o fez voar. Mas você tem razão quando diz que é arriscado, porque essas criaturas são muito fortes e só nós, caçadores, podemos derrotá-las. Então essa idéia do seu namorado, digo, de Joseph, não é favorável. – fez uma pequena pausa e continuou. – Ainda mais porque você gosta dele e não quer vê-lo morrer. – pigarreou e prendeu um risinho.

- Eu não gosto dele... – fechei a cara. – Só não quero ver mais ninguém morrer...

- E você engana a quem com esse argumento, garota? Está escrito na sua testa: “Eu gosto de Joseph, e aí?” – apontou minha testa.

- Não irei nem comentar isso que você acabou de dizer. – cruzei os braços.

- O silêncio é a melhor resposta. – sorriu novamente. – Ou talvez não...

E continuamos caminhando em silêncio até chegar à mansão.

***

Você não vai acreditar. Em apenas um dia fui persuadida por Lucy e recebi uma notícia ÓTIMA – para não dizer o contrário. Como eu pude ter concordado com isso? Definitivamente, sou maluca. Não acredito que aceitei treinar Joseph. Não acredito mesmo. Prometi a mim mesma que nunca treinaria ninguém, e agora, cá estou eu, prestes a ensinar Joseph a como enfiar uma estaca no coração de um vampiro. Que piada!

Joseph estava sentadinho no chão com as pernas cruzadas, feito uma criança, olhando-me atenciosamente enquanto eu andava de um lado para o outro.

- Olhe aqui, cara. Só vou fazer isso, porque Lucy me pediu e ela já vinha treinando você antes. Como ela pôde fazer isso? – olhei-o, com vontade de pular em seu pescoço. – Ainda mais comigo. Não mereço esse tipo de coisa de jeito nenhum. – choraminguei.

- Lucy só me ensinou a teoria e não a prática. Ela disse que eu podia contar com a sua gentileza. - Joseph continuava me olhando, então, começou a sorrir para mim.

- Do que você está rindo? – parei de andar de um lado para o outro e cheguei mais perto dele, curvando-me. – E desde quando você e Lucy são amiguinhos, hein? Andavam tramando coisas às minhas costas e eu nem sabia! E ela nem me contou qual o motivo de lhe transformar num caçador! Que...

- De como você fica linda quando está brava, nanica. – interrompeu-me e deu um peteleco suave em meu nariz.

Corei.

- Levante-se, Joseph. – mandei, recompondo-me.

- O quê?

- Levante-se, seu loiro irritante! – aumentei o tom da minha voz.

- Tá, tá. Já estou levantando. Calma... – Joseph levantara as mãos.

Dei às costas para ele. Eu estava muito estressada. Tentei contar até dez. “Um, dois, três, quatro, cinco, seis...” O quê?! Senti um fungado em meu pescoço.

- E aí? Vai me ensinar algo agora? – Joseph pôs uma de suas mãos em meu ombro.

Virei meu corpo para ele. Meu nariz estava quase encostado no seu peito. Senti o seu perfume. Joseph tinha cheiro de grama molhada misturado com alfazema. Fiquei completamente tonta.

- Que foi? – ele baixou a vista para a minha direção e sorriu gentilmente.

Por um momento... Por um momento... Ele estava tão perto de mim... Foi aí que Joseph segurou meus ombros e aproximou seu rosto do meu. Eu já estava fechando meus olhos quando ele começou a me... Chacoalhar do nada!

- Frankie! Frankie! – Joseph continuava me chacoalhando. – O quê houve?! Acorde!

Olhei-o ainda hipnotizada por causa do seu perfume. Sua voz era uma falha em meus pensamentos, mas depois comecei a ouvi-lo com mais clareza. Voltei à realidade depressa. Arregalei meus olhos para ele e vi que seu rosto estava bem próximo do meu. Não pensei duas vezes. Soquei-o sem limitar minha força. Ele saiu girando no chão.

Eu já estava me acostumando com a idéia de bater em Joseph sempre. Exagero meu? Talvez.

- O que você pensa que estava fazendo? – levantei meu punho na sua direção.

Joseph estava estirado no chão, com o nariz sangrando. Então, sua raiva começou a surgir.

- Por que você me socou? – perguntou baixinho, apoiando-se no braço esquerdo.

- Porque você estava tentando fazer algo, que eu sei! – exclamei, apontando para ele.

Joseph começou a levantar repentinamente. Quando dei por mim, ele já estava de pé, limpando o sangue de seu nariz na manga do moletom.

- Sua boba! – resmungou para si, mas eu ouvi. – Eu estava tentando lhe “acordar”, porque você estava agindo de forma estranha. – começou a se aproximar de mim com passos longos. – Você deveria me agradecer, mas o que eu recebo em troco são só socos!

Quando me dei conta, ele já estava a um passo de mim.

- Não se aproxime! – falei, dando um passo para trás.

E ele dando um passo para frente. Seu cabelo esvoaçava, deixando-o com charme. Meus pés se prenderam ao chão. Realmente não sei o que houve. Mais um passo à frente Joseph deu e seu peito, mais uma vez, estava quase tocando o meu nariz.

- Seu... – tentei socá-lo, mas ele segurou minha mão fechada.

Eu não estava com força. Levantei meu outro punho e ele o segurou também.

- Não se atreva, Joseph. – falei, com a respiração alterada.

Joseph prendeu minhas mãos às minhas costas com as suas. Seu corpo já estava tocando o meu e meu coração disparou loucamente. Aproximou sua boca da minha e tocou meus lábios rapidamente com os seus, mas que, ao mesmo tempo, fizesse-me enlouquecer. Ele olhou para mim e sorriu mostrando todos os seus dentes. Soltou minhas mãos, virou às costas para mim e começou a andar como se nada tivesse acontecido.

- Não se esqueça do meu treino amanhã, nanica. – falou sem olhar para trás e levantou uma das mãos. – Você não está em condições de ser professora hoje.

E eu não fiz nada. Só fiquei parada em meu lugar, olhando-o ir embora. Quando o vi desaparecer, toquei meus lábios com as pontas dos dedos e sorri com o canto da boca.

***

- Frankie, quem é esse cara que está acompanhando o seu namorado?! E por que o seu namorado está aqui? Ele não está totalmente pronto! – Stéph perguntou sem desviar os olhos do lobisomem.

- Eu não sei o que esses idiotas estão fazendo aqui e pare de repetir que Joseph é meu namorado! – respondi, olhando-os.

- Sam! Você está vendo o mesmo que eu? – Joseph dirigiu a palavra para Sam, ignorando meu comentário. A euforia transbordava de seus olhos. – Que incrível!

- Não é tão incrível quando ele arranca suas tripas e faz picadinho de você! – aproximei-me de Joseph. – Você está maluco? Isso aqui é perigoso, cara! – apontei para o lobisomem. – Faz idéia do quanto?

- Eu quis vir ajudar! – levantou os braços.

- Cale a boca! – olhei o lobisomem. – Você só irá atrapalhar!

- Eu também vim ajudar vocês. – Sam olhou Stéph. – Oi, tudo bem? – acenou e sorriu.

- Frankie, quando eu matar aquele lobisomem, em seguida, eu juro que mato você! – ignorou totalmente Sam e ameaçou-me.

- Ah, que se dane, droga! – dei de ombros e fiquei irritada.

Em seguida, puxei o punhal que estava preso à minha coxa, corri e fui de encontro ao lobisomem. Pulei alto, joguei o punhal em sua perna e o lobisomem caiu de joelhos, e ao mesmo tempo, saquei minha arma e puxei o gatilho. A bala de prata acertou em cheio seu coração. Segundos depois, o cara estava estirado no chão. Morto. Aproximei-me do corpo.

- A cada dia vocês estão dando mais trabalho. – sussurrei, olhando para o corpo e o garoto virou cinzas.

Andei até onde estavam os outros. Olhei para Joseph.

- E aí? Ajudou em algo? – perguntei friamente, enquanto guardava minha arma na mochila e prendi o punhal à coxa.

- Poxa, Frankie! Eu iria derrotá-lo! – queixou-se Stéph.

- Ah, não se preocupe. Haverá outras chances. – Sam respondeu por mim. – A propósito, meu nome é Sam. – sorriu empolgado e estendeu a mão.

- Stéph. – apertou sem interesse.

- Olha só, que tal a gente sair um dia desses... – Sam passou a mão pelo cabelo cacheado, fazendo charme.

- Não, obrigada. – respondeu secamente e olhou-me. – Eu não sabia que você usava uma arma.

- É porque desde que estamos trabalhando juntas não havia aparecido um lobisomem até então e bem, Lucy me deu essa arma há pouco tempo. – meu cabelo estava preso, então o soltei.

Ficamos em silêncio durante alguns segundos. A rua em que estávamos parecia vazia, escura e fria. Tremi e Stéph interrompeu o silêncio.

- Ok, garotos. Como vocês conseguiram nos perseguir? – Stéph cruzou os braços.

- Não é difícil perseguir vocês quando se tem um meio de transporte, sabe. – disse Joseph, olhando Stéph.

- Interessante. – levantou uma sobrancelha. – Então quer dizer que vocês andam nos espionando? – aproximou-se de Joseph e cutucou seu peito com o dedo indicador.

- Não exatamente. Lucy me avisou. – sorriu. – Resolvi trazer o Sam para ele ver como vocês agem. – apontou para Sam com o polegar sem desviar os olhos de Stéph.

Por que eles estavam conversando daquele jeito?

Tossi alto.

- Com licença, amiguinhos. – aproximei-me dos três e cruzei as mãos. – Mas Stéph e eu precisamos ir agora. – dei um sorriso falso e puxei Stéph pela mão.

E Joseph puxou-me pelo cotovelo.

- Vocês não querem uma carona? Viemos no jipe do Sam, então...

- Não, obrigada. Preferimos ir correndo. – olhei para sua mão em meu braço e olhei Joseph.

Ele soltou meu cotovelo cautelosamente. Demos às costas para os garotos sem nos despedir e saímos correndo pelo breu da noite.

- Ora, ora. O que temos aqui? – sorri e contornei Paul, filmando-o com o olhar de cima a baixo. – Pensei que eu tivesse te matado, mas vejo que estou errada. Tsc. – parei e fiquei a uns três metros de distância dele, ficando à sua frente.


Paul não havia mudado nada. Era o mesmo vampiro nojentinho com cara de anjinho de sempre. Cabelo castanho, pele clara e olhos negros. Beleza, ele podia ser bonitinho, mas tinha um péssimo gosto para roupas. Ele vestia uma calça de couro apertada, uma regata que deixava à mostra seus músculos e estava descalço.

- Frankie, quem é esse cara? – perguntou Stéph.

- Um amigo do passado que não tem nenhum significado para mim. – pus uma mão no quadril e olhei Stéph. – Hmm, acho que podemos aniquilá-lo sem muito esforço, não é, Paul? – levantei uma sobrancelha e soltei um risinho falso na sua direção.

- Bem, eu não diria isso se fosse você, Adamson. – Paul olhou uma das mãos. – Aliás, não pretendo matar você agora e nem hoje. Tenho coisas mais importantes para fazer, ou seja, “chupar” uns pescoços por aí. Seu sangue insignificante não interessa para mim, apesar de haver boatos sobre o sangue dos caçadores... – lambeu os lábios. -... São os mais apetitosos... Que saco, sangue é tudo a mesma coisa! – revirou os olhos e olhou Stéph. – E quem é essa belezinha? Não sabia que trabalhava em dupla, Adamson. – andou alguns passos na direção de Stéph.

- Não se aproxime, vampiro! – gritou Stéph. – Estou lhe avisando. Não ouse dar mais nenhum passo, ou então decepo sua cabeça imunda! – ameaçou. – E não trabalhamos em dupla!

- Calma, benzinho. Só quero te conhecer melhor. Não irei lhe fazer nenhum mal. – Paul levantou as mãos, informando que queria “paz”. – Você irá gostar de mim. – sorriu.

Irei lhe contar uma coisa: um vampiro é a pior criatura que alguém pode conhecer. Porque além de te seduzir, ter uma aparência boa e te manipular, suga seu sangue quando você estiver caidinha aos seus pés. É terrível. Já presenciei uma cena dessas, e não foi legal. Nenhum pouco.

Stéph fez um gesto feio na direção de Paul com o seu dedo do meio. Revirei meus olhos e balancei minha cabeça de um lado para o outro, reprovando-a.

- Stéph, por favor, tenha modos. Eu sei que ele não significa coisa alguma, mas não custa nada ter um pouquinho de educação. – falei, com sarcasmo na voz.

- Quem é você para vir me falar de modos ou educação? Se há alguém desprovido dessas duas coisas aqui é você. Poupe-me desse falatório e vamos acabar com esse nojento. – apontou para Paul.

- Ah, então quer dizer que a loirinha se chama Stéphanie? – Paul estava a um metro de distância da gente, ou seja, muito perto. – Eu deixo você me matar, delícia. – sorriu maliciosamente.

- Faça-me o favor, cara. Acredite, você não faz o meu tipo, eu não curto a sua espécie e meu nome não é Stéphanie! Agora, para de blefar, porque não estamos aqui para brincadeiras.

- E quem disse que estou brincando? – ficou à frente de Stéph. – Otária. – mais que depressa, Paul agarrou o seu cabelo e acertou sua barriga com o joelho, fazendo Stéph cair de quatro.

Eu realmente tinha que fazer algo. Paul estava tão ocupado olhando Stéph se contorcer de dor, que nem percebeu quando eu corri e chutei sua coluna, fazendo-a estralar.

Paul foi arremessado contra o chão com violência. Não houve gritos de sua parte. Quer saber? Paul era um sádico. Foi por isso que ficara sorrindo enquanto Stéph agoniava-se de dor. Vamos combinar. Nessa parte os dois combinavam perfeitamente.

Dei uns dois passos até onde Stéph estava, agachei-me e ajudei-a a levantar.

- Nunca disseram a você que é covardia atacar os outros pelas costas, Adamson? – disse Paul, de pé. Alongando suas costas.

- Essa regra não vale para mim, querido. – sorri e afastei Stéph um pouco. – Você não está em condições de lutar, Stéphanie. – olhei-a. – Ainda não se recuperou totalmente da luta de ontem.

- Quem disse? Escute: você não é a única com a capacidade de ficar boa dos ferimentos rapidamente por aqui. Então, não é a joelhada de um vampirinho que vai me tirar da jogada, entendeu? E meu nome não é Stéphanie! – jogou o cabelo para trás e olhou para Paul. – Ok, morcego. Você quer brincar? Então vamos brincar! – Stéph correu, levantando poeira. Tentou acertar o queixo de Paul com o punho, mas ele, por sua vez, esquivou-se e acertou suas costas com o cotovelo, fazendo-a cair de bruços.

Sorriu e olhou-me.

- O nível dos caçadores caiu muito. Pensei que vocês fossem mais habilidosos. Essa gatinha aí não suporta nada. – apontou para Stéph, sem tirar os olhos de mim. – Essa linhagem sanguínea de vocês é uma farsa.

- Quando eu cortar sua cabeça e fazê-la de troféu, então você verá o que é farsa. – disse, totalmente seca. – Ah, é mesmo. Ia me esquecendo. Você não verá nada, porque já estará morto mesmo. – tirei minha camisa quadriculada lentamente, joguei-a no chão e prendi meu cabelo.

- Vejo que irei me divertir. – Paul sorriu e chutou Stéph com força, jogando-a a alguns metros para longe de nós. Ela estava inconsciente e desprotegida. – Saiba que não quero lhe matar agora, Adamson. Já tenho planos para você. – sorriu mais uma vez, deixando suas presas enormes à mostra.

- Beleza. Mas eu irei matar você agora. – corri em sua direção, cheguei junto do vampiro e dei uma rasteira. Ele caiu e quando eu ia socá-lo no estômago, Paul levantou, pegou meu braço, sorriu e jogou-me contra o chão, fazendo-o rachar.

Agachou-se ao meu lado e agarrou meu pescoço de supetão, levantando-me.

- Vejamos. Eu não queria matar você, sabe. – disse novamente e socou minha caixa torácica com o punho esquerdo. – Você é tão linda para morrer. Seria um desperdício. – socou minha caixa torácica mais uma vez e gargalhou com ar de psicopata.

Gemi de dor. Talvez minhas costelas estivessem quebradas, mas eu não podia deixar que aquilo me impedisse.

- E você é muito... Imbecil... Para continuar... Vivo. – hesitei, mas falei. Lembrei do que Stéph havia feito com o vampiro de ontem à noite e consegui levantar meu joelho e acertar o queixo de Paul. Seu pescoço estralou e ele me soltou. Caí de pé, mas tossindo, enquanto segurava meu pescoço com as duas mãos, procurando por oxigênio.

Apertei meu pescoço com a mão direita e andei cambaleando até Paul. Tirei a estaca que estava presa à minha coxa, agachei-me ao seu lado e quando eu ia cravá-la em seu coração, Paul abriu os olhos subitamente, gritou alto e grosso, deu uma tapa na minha cara e disse entre dentes:

- Espere-me, Adamson! Eu virei com reforços! – e desapareceu do nada. Puf!

Francamente, eu não sabia que o teletransporte existia! Franzi o cenho e massageei meu rosto.

Levantei e caminhei – com uma das mãos sobre uma das costelas - devagar até onde estava Stéph. Tentei reanimá-la, só que ela não queria acordar. Procurei pelo meu celular em um dos bolsos da minha calça. Achei-o e liguei para Lucy.

- Lucy, estou com problemas aqui. – consegui dizer.

***

- Ok, eu não estou nervosa! Só estou com a voz alterada, porque... – encostei-me na parede, apertando meu peito. – AH, MEU DEUS! POR QUE ELA NÃO ACORDA?! – corri até Lucy e segurei sua blusa com força. Sacudi Lucy umas três vezes. – Anda, vamos! Diga-me o que está ocorrendo! – meus olhos estavam em chamas.

Lucy, calmamente, segurou meus pulsos e retirou minhas mãos da sua blusa.

- Acalme-se. Está tudo bem. Ela não morreu e nem irá morrer. – virou-se para olhar Stéph. – Olha só, ela está respirando. Vamos deixá-la descansar. Amanhã ela acordará cheia de energia, certo? – cobriu-a com um edredom. – Mas eu não sei o motivo pelo qual ela apagou... – seu rosto ficou sem expressão.

- Talvez tenha sido a agressão física de Paul. – eu estava aflita. – Mas suportamos qualquer pancadaria, Lucy. Eu não entendo. – pus uma mão na cintura e cocei minha testa com a outra.

- Nem eu. – olhou-me. – Olha, é melhor você ir descansar. Eu fico aqui com ela. Não precisa ficar se preocupando. Stéph é durona. – sorriu e apontou para a saída do quarto.

Assenti. Caminhei até a porta e virei para dar uma última olhadinha na cama que Stéph se encontrava.

Saí.

Fechei a porta.

Sentei no chão.

Chorei.

***

Não consegui descansar como Lucy me recomendou. Tomei um banho para relaxar, logo após deitei-me na cama sem me preocupar em vestir minhas roupas. Fechei meus olhos, mas não consegui dormir. Minha cabeça não parava de girar. Abri meus olhos novamente e fitei o teto. Fiquei naquele estado durante umas duas horas.

Estava escurecendo quando resolvi me levantar da cama e vestir-me. Pus qualquer roupa que achei à minha frente e caminhei até o quarto onde Stéph se encontrava. Abri a porta devagarzinho e dei uma olhadinha para dentro do quarto.

- O que está querendo, anã? – perguntou Stéph, deitada. Olhando-me com uma sobrancelha levantada. – Veio zombar de mim, é isso? – sentou-se e fez sinal com a mão para que eu entrasse.

- Claro que não! – entrei subitamente e fechei a porta. – Só vim ver como você está. – tentei um sorriso e aproximei-me da cama.

- Agora você já sabe como eu estou. Pode ir. – olhou para o lado e roeu uma unha, com raiva.

Fiquei parada em meu lugar.

Stéph percebeu que eu ainda não havia me mexido e olhou-me.

- O quê?! – ficou assustada e inclinou-se um pouco na minha direção. – Por que você está chorando, anã?! – quis saber.

Porém, nada respondi.

Gargalhei e abracei-a.

Stéph ficou imóvel. Ela não esperava por aquilo. Por um segundo ela retribuiu meu abraço, entretanto, em seguida, afastou-me com brutalidade, mas sem força.

- O que você pensa que está fazendo, garota?! – bufou, levantou-se da cama, cambaleou até a janela e abriu-a, deixando o vento entrar. Seu cabelo dançou com a brisa. – Se quer ser minha amiga, não me venha com abraços, porque não aceito nenhum vindo de uma anã de circo como você. – virou-se para mim e deu um meio sorriso.

***

Corremos entre as árvores do bosque com rapidez. Perseguíamos uma vampira de cabelo curto – corte “Joãozinho”. Ela era mais rápida do que nós. Parecia mais um leopardo perseguindo uma presa.

- Cara, não agüento isso! – olhei Stéph.

Ela assentiu.

Fui cessando minha velocidade aos poucos, deixando Stéph à minha frente e recomecei a correr rapidamente, pegando impulso para um salto. Quando passei por Stéph, quase “voando”, levantei poeira e seu longo cabelo loiro enrolou-se. Ouvi-a me xingar, mas não liguei.

Pulei e passei por cima da vampira. Quando aterrissei, agachei-me um pouco para parar-me com a mão no chão – a mesma não ficou num bom estado, mas curou-se rapidamente. Meu cabelo curto e repicado estava esvoaçando.

A vampira olhou-me assustada, parou de correr e começou a andar para trás, mas tombou em Stéph, que estava de braços cruzados e olhos cheios de desdém.

- Ô garota. Eu não fugiria se fosse você, porque assim, irá ser pior. – Stéph passou os dedos entre os fios de seu cabelo e cruzou os braços novamente. – Esperamos o sol ou a matamos agora? – olhou a vampira e olhou-me.

Como Stéph podia ser tão fria?

Não respondi sua pergunta que fez a vampira tremer.

- Olha aqui, gracinha. – continuou Stéph. – Não irá doer nada. Bem, vou ser boazinha com você. Vou deixar você escolher como quer morrer, porque... – Stéph foi interrompida por um soco na barriga, mas ainda conseguiu gritar – MAS QUE FILHA DUMA... – e tomou mais um soco no rosto, fazendo-a recuar uns dois passos.

A vampira sorriu orgulhosa, mostrando as pequenas presas, porém afiadas. Pena que era uma coadjuvante, pois não fugiu quando teve chances. Ela não percebeu quando Stéph se recuperou e pegou seu pescoço, jogando-a no chão, fazendo o mesmo afundar. Stéph havia soltado as feras.

- Minha querida, você mexeu com a pessoa errada! – soltou o pescoço da vampira e levantou-a pelo cabelo.

O “monstrinho” tentou revidar, mas Stéph chutou seu abdômen e ela caiu sentada numa poça de lama. Eu, a essa altura, estava sentada, com as pernas cruzadas, observando tudo. Stéph parecia uma criança brincando com uma boneca. A vampira aparentava ter a nossa idade, mas havia perdido a adolescência após ser mordida. Então, obviamente, alimentava-se de sangue humano. Por isso, tínhamos que matá-la, mesmo que eu não gostasse da ideia.

Ouvi um grito e nada mais. Já era. Stéph havia acabado com a vampira enquanto eu ficava com meus devaneios. Levantei-me e limpei a poeira das minhas roupas.

- Ok, já tivemos demais por hoje, vamos...

- Shhh... – Stéph levou o dedo indicador à boca, sinalizando silêncio e apontou para algo atrás de nós e saiu correndo entre as árvores, deixando-me sozinha.

- AAAAAAH! – vi um garoto loiro aterrissando na mesma poça de lama que a vampira acabara de ser morta.

Stéph pulou, ficando à frente do loiro e puxando a estaca da jaqueta.

- POR FAVOR, NÃO! NÃO ME MATE! – o garoto levou as mãos ao rosto.

Reconheci a voz. Não pode ser...

- Por que vocês ainda pedem isso? – Stéph levantou a estaca, mas a impedi de cometer uma tragédia bem no momento em que a madeira iria entrar em contato com a pele do cara.

Levantei o garoto pelo moletom sem delicadeza.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?! – gritei.

Ele estava assustado.

- Espera aí. Você o conhece? – aproximou-se Stéph de nós.

- Sim, mas não gostaria de conhecer. – respondi, fitando os belos olhos verdes-azuis de Joseph.

- Stéph, agora não é hora para rivalidade! – exclamei alto. – Temos que acabar com ele imediatamente! – olhei-a. A minha respiração estava alterada.



- Que seja, Frankie! – respondeu-me, torcendo o pescoço de um lado para o outro, pronta para atacar.



Stéph correu até o vampiro e o socou no rosto com força - o cara nem teve tempo para pensar em se esquivar. O soco fez com que ele voasse em linha reta por uns cinco metros e, finalmente, caísse numa poça d’água. Ah, esqueci de contar. Tenho uma visão apurada para cálculos, mas, infelizmente, esse dom só aparece em situações desse tipo.



- Não acabei com você ainda! – Stéph correu em direção ao vampiro novamente. Pegou a perna do “morcego”, torceu-a e riu histericamente. Havia um tipo de prazer em seus olhos.



Ouvi ossos estralarem e o vampiro gritou de dor. Deixe-me explicar uma coisa: eu gosto de acabar logo com o sofrimento dessas coisas, mas no pouco tempo em que vi Stéph lutando, ela realmente gosta de fazer as criaturas sofrerem. Um tipo de sádica, talvez.



- Stéph, acalme-se! – corri até ela, sabendo o que iria ocorrer em seguida.



- Ah, cale... – ela não teve tempo de terminar a frase, porque o vampiro – mesmo com a perna quebrada – pegou o seu pescoço, ergueu-a e eu só fiquei os olhando. Perplexa.



Uma regra: nunca tire sua atenção da coisa que você está fazendo. Numa luta, principalmente. E foi isso que Stéph fez. Virou-se para dizer uma duas palavras, o “filhote de cruz credo” achou uma brecha e conseguiu pegá-la de jeito.



- Acabarei com você aqui e agora, depois pego a baixinha bonitinha ali. – o vampiro falou com satisfação e sorriu.



- Só... Nos... Seus... Sonhos... – Stéph hesitara entre as palavras, mas conseguiu chutar o queixo do vampiro com o joelho e, mais uma vez, ouvi ossos estralarem. Que nojo!



A loira caiu no chão de joelhos e, ao mesmo tempo, tossindo feito uma condenada. Por pouco o vampiro não a estrangulou. Então, percebi que aquela situação era a minha deixa. Aproximei-me do vampiro calmamente e levantei-o pelo cabelo. Chutei sua barrigada duas vezes e o arremessei por cerca de dez metros – minha visão apurada para cálculos fez-me enxergar isso novamente. Ele caiu sentado, junto a uma árvore. Aproximei-me mais uma vez dele, puxei minha estaca da jaqueta, agachei-me à sua frente e cravei-a em seu coração. O tédio estava me matando. Bocejei.



- Tchau, aberração. – falei, olhando em seus olhos. – A baixinha bonitinha aqui, acaba de banir você do mundo. – zombei.



O vampiro olhou desesperado para seu peito, olhou-me, cuspiu sangue e virou cinzas.



- Criaturinha repugnante. – levantei-me e limpei o suor da minha testa. – Eu preciso tirar uma folga. – suspirei e peguei a estaca que havia ficado no chão.



- Você se acha muito esperta, não é? – disse Stéph, aproximando-se e contornando-me. Seu pescoço estava com as marcas dos dedos do vampiro.



- O suficiente para ignorar qualquer comentário que venha da sua parte. – guardei a estaca na jaqueta e olhei-a melhor. – Preciso ir. Está ficando tarde e não quero me atrasar para a primeira aula de amanhã – comecei a caminhar, mas a loira segurou-me pelo cotovelo. Olhei para sua mão em meu braço e voltei o olhar para o seu. – Você é um “pé no saco”, garota. – falei e puxei meu braço, mas ela não o soltou. Puxei novamente e bem... Ela não o soltou! – Olha só, não quero brigar com você, porque eu teria que quebrar esse seu narizinho arrebitado... – Stéph socou meu nariz e soltou meu cotovelo, ficando em posição de ataque. Nem esperou eu terminar minha frase! Que covardia.



Ok, eu não esperava que ela fosse me bater. Eu não gosto de brigar, mas há muito tempo eu queria dar uma surra em Stéph! Eu vinha aturando essa garota há um mês. Minha paciência tinha limites e ela havia acabado de esgotar!



- Não vejo motivos para você ter batido em mim. – massageei meu nariz um pouco e comecei a amarrar meu cabelo. – Não vejo mesmo. – levantei uma sobrancelha.



- Ah, não? Só pelo simples fato de você existir já é um motivo para eu te bater. – apontou seu dedo indicador para mim, intimidando-me. – E por você sempre ficar com os créditos de tudo. – endireitou-se novamente.



Sua posição de ataque era diferente da minha. Ela ficava ereta, com a mão direita nas costas e a outra levantada até a altura do rosto. Enquanto eu ficava feito um gângster de rua.



- Beleza, você quer brigar, então... – tomei outro soco na cara e nem vi quando ela se aproximou. Desequilibrei-me. – Uh! – foi o que consegui dizer.



Stéph não me deu tempo. Chutou minha barriga com força e eu tossi totalmente sem ar. Pegou meu rabo-de-cavalo e o puxou, jogando-me no chão.



O que estava acontecendo comigo? Por que eu não estava reagindo? Minhas forças? Eu não as encontrava. Nunca havia ocorrido isso antes. Nunca!



Loira-sádica-psicopata ia afundar meu tórax com o pé se eu não tivesse me esquivado rápido, ao invés disso, ela afundou o chão. Pus-me de pé. Cambaleei para o lado e limpei o sangue que estava escorrendo do meu nariz.



- O que está ocorrendo, Frank-anã? Está com medo? – sorriu e estalou os dedos das mãos. – Não conhecia essa sua parte covarde.



Ser chamada de covarde foi a gota d’água!



- VOU TE MOSTRAR QUEM É A COVARDE! – corri até ela e sem perceber, novamente, levei mais um soco no rosto.



Cuspi sangue. Muito sangue! Eu estava começando a ficar tonta. Stéph iria bater na minha cara com o cotovelo, mas aquele movimento rápido eu consegui captar e segurei-a pelo braço. Girei-o, fazendo-a cair e ouvi um “crack” nojento, mas ela não gritou. Não tenho certeza se quebrei seu braço, só sei que em seguida, mesmo caída no chão, ela chutou meu estômago com força e eu recuei uns três passos, o suficiente para ela levantar-se.



- Acha que, quebrando meu braço, vai se safar da surra?! – apertou o braço quebrado com o direito.



- Eu não queria quebrar seu braço... – expliquei, quase sufocando.



- Acha que, só porque é mais forte, irá vencer sempre?! – andou um pouco para frente. Mancando.



Hm, não me lembro de ter acertado sua perna.



- Responda-me, caramba! – exaltou-se.



Não respondi. Eu estava confusa e zonza.



- Sua cretina! – ofendeu-me.



- Já chega, garotas. – disse Lucy. Aparecendo do nada e ficando entre Stéph e eu. Sua expressão passou de séria para nervosa. – Espero que não ocorra mais isso! Que vergonha, gente! Vocês podiam ter resolvido isso na base do diálogo. E não utilizar a força bruta! Que ridículo! – olhou Stéph de cima a baixo. – Anda, vamos. Vou cuidar desse braço e dessa perna. – pôs sua mão direita sobre o ombro de Stéph. – E você, mocinha. – olhou-me. – Não precisa se preocupar, porque esses arranhões, hematomas e blábláblás, já estão se curando.



- Não preciso da sua ajuda, Hime! – Stéph afastou-se de Lucy. – Posso me curar também. – disse, olhando no fundo dos meus olhos. – Não tão rápido quanto ela, mas consigo. Talvez um processo mais doloroso e desconfortável, mas... – abaixou a cabeça, calou-se por alguns segundos e falou baixinho. – Vou embora. – olhou Lucy, olhou-me novamente e advertiu-me. – Espero não ver você amanhã, idiota. – deu-nos às costas e saiu correndo entre as árvores - com dificuldade.



Olhei para o lado. Eu não estava mais sentindo dor, mas me senti mal por isso.



- Eu não queria machucá-la. – falei, olhando para o nada.



- Psiu... – Lucy afagou minha cabeça. – Vamos embora. – sua voz estava embargada.



***



Acordei sem vestígios de hematomas, arranhões, dor, ou algo do tipo. Não era justo eu me curar tão rápido. Eu queria saber, pelo menos, qual era a sensação de ter uma cicatriz gravada no meu corpo, porque nem isso eu tinha. Só havia cicatrizes dentro de mim, no meu coração, entretanto, eu não podia enxergá-las. Talvez eu esteja numa paciência duradoura, porém, estou chorando por dentro. O “sonho” que escolhi, não há como desistir dele. Apesar de eu ser aquela que se esconde nas sombras, quando eu encarar o meu próprio sonho, não deixarei que ele se vá, se um dia eu escolher um real.



Eu estava encarando os portões do colégio sem querer, com um olhar morto. Tive a leve sensação de ter ouvido passos vindos na minha direção - e eu não estava errada.



- Oi. – cumprimentou-me uma voz feminina.



Virei meu rosto aos poucos e franzi o cenho.



- Oi... – respondi sem ânimo.



- Eu sou nova aqui no colégio. Cheguei ontem da Espanha, então eu queria que você me ajudasse. – a garota deu um sorriso largo. – Pode ser?



Eu perguntei alguma coisa? – tive vontade de dizer.



- Você não parece espanhola. – falei secamente, ignorando seu pedido de ajuda. – Nem sotaque você tem.



- Ah. – deu um risinho histérico.



Ótimo. Outra mala apareceu na minha vida.



– Não, não. Sou do sul do Brasil. Mudei para a Espanha ano passado e minha família teve que se mudar para esse país de... – sinto que ela iria dizer uma palavra não muito agradável. - Enfim, por causa do trabalho dos meus pais. – sorriu novamente.



Como aquela conversa estava me deixando feliz – para não dizer o contrário. Eu queria me matar. Forcei um sorriso.



- Então, poderia me ajudar? - ajeitou a mochila um pouco. Parecia desconfortável.



- Não sou a pessoa mais adequada para te ajudar. – cruzei os braços. – Estudo nesse colégio há um mês. Não conheço praticamente nada daqui. – comecei a bater meu pé no chão. Impaciente.



- Por favor. Preciso da sua ajuda agora. – ficou séria e encarou-me. – Não estou brincando. – sua voz pareceu ficar rouca.



- Nem eu. – levantei uma sobrancelha, virei para a entrada do colégio e deixei-a falando sozinha.



Olhar estranho.



Roupas estranhas.



Conversa estranha.



Garota totalmente estranha.



Ela estava vestida feito uma gótica. Botas pretas até a metade de sua panturrilha; saia vermelha até a altura do joelho; camisa preta; maquiagem super esquisita e sombria; longos cabelos vermelhos e grandes olhos castanhos. Aquela garota não parecia ser boa coisa.



Enquanto eu andava pensando sobre o ocorrido, pelos corredores do colégio, esbarrei em Sam sem querer.



- Ah, cuidado! – ele não havia percebido que quem havia esbarrado nele era, na verdade, eu. Então, olhou-me e deu um grande sorriso feliz. – FRANKIEEEE! – gritou e abraçou-me – eu não esperava por isso. – Que saudades, garota! – soltou-me, mas deixou suas mãos em meus ombros.



- Não há como você sentir saudades. Tenho duas aulas na mesma sala que você. – fiz olhar de tédio. – Além disso, você me vê todos os dias.



- Não, você está distante. Toda vez que eu tentava falar algo, você sempre desaparecia do nada. E bem, você está sentando no fundo da sala. – retirou as mãos dos meus ombros e espreguiçou-se, um tanto sonolento. – Por favor, não se esqueça de falar com...



- Ok, foi bom te ver também. – interrompi-o e dei-lhe às costas.



É. Eu sei. Foi falta de educação da minha parte.



***



Peguei meu lanche e sentei numa mesa qualquer. Estava muito bom, até que Sam e Joseph juntaram-se a mim e sentaram-se à mesa. Conversando e sorrindo um para o outro. Como se nunca tivéssemos nos afastado. Se bem que nunca fomos próximos, mas...



- Não se importa se sentarmos aqui, não é Frankie? – Sam sorriu.



- Já estão sentados mesmo. – murmurei.



- E então? Como está? – perguntou Sam, sem dar ouvidos ao que eu havia dito.



- Há meio segundos eu estava melhor. – murmurei novamente.



- Como? – perguntou.



- Nada. – respondi e dei uma mordida grande no meu sanduíche.



Joseph olhou-me de esguelha e sorriu um pouquinho.



- O que pretende fazer nesse final de semana, Frank? Estará livre amanhã? Quer sair com a gente? Ou podemos ir à sua casa? – Sam realmente não conseguia conter sua boca.



- Pretendo afogar pessoas que perguntam demais na privada. – respondi calmamente, com a boca cheia.



- Ah, que engraçada! – gargalhou.



Censurei-o com o olhar e ele parou de rir.



- Mas, e aí? Não quer sair com a gente mesmo? – pigarreou e insistiu na pergunta.



- Não sei... – engoli a comida que estava na minha boca, deixei o sanduíche de lado e pus um cotovelo sobre a mesa. – Se eu estiver livre... Quem sabe...



- Então podemos ir à sua casa?



- Não acho conveniente...



- AH, POSSO IR TAMBÉM, FRANKIEEE? – garota estranha aparece do nada novamente, juntando-se a nós à mesa. – Posso? Posso? – olhou para Sam e Joseph e sorriu. – Olá, garotos.



Assustei-me. Sam olhou para mim e fez olhar de “quem é essa maluca, Frankie?”.



- Espera! – levantei uma mão - Quem é você e como sabe meu nome? E não. Você não pode ir à minha casa. – fui dura na resposta.



- Ah, meu nome é Fernanda! – sorriu e continuou. – Ah, ouvi seu nome por aí. Mas por que não posso ir à sua casa também? – inclinou-se sobre a mesa, chegando mais perto de mim.



Levantei de supetão da cadeira. Arrastando-a.



- Porque não! – afastei-me de Fernanda. – Pronto! Ninguém pode ir à minha casa.



Joseph, Sam e Fernanda levantaram-se ao mesmo tempo. Dobrei a manga da minha camisa quadriculada e indiquei com a cabeça, sem que a maluca percebesse, a saída para o jardim aos garotos.



- Ah... Bem... Foi um prazer revê-la, Fernanda. – menti. – Agora, os garotos e eu, precisamos ter uma conversinha lá fora. Certo? – sorri e puxei Sam e Joseph pelos braços.



Deixamos Fernanda sozinha. Seu último olhar na nossa direção não foi interessante.



- Nada de ir à minha casa. Não acho favorável. Em hipótese alguma, não cheguem perto de lá. Entenderam? – Sam e Joseph ficaram à minha frente. Senti-me uma anã perto dos dois.



- Por que não? Não somos assaltantes, nanica. – disse Joseph.



- Engraçadinho. Há-há. – olhei-o e fingi um sorriso.



Houve um minuto de silêncio e Joseph falou novamente.



- E então? – cruzou os braços e inclinou-se para mim.



- E então o quê? – desequilibrei-me um pouco com sua aproximação.



- Podemos ir à sua casa? – sorriu.



Grunhi e o empurrei. Ele tombou uns dois passos para trás e gargalhou na direção de Sam. Fuzilei-os com os olhos, serrei os punhos e deixei os dois rindo no jardim.



- EI, NANICA! PARA UMA PESSOA PEQUENA, VOCÊ TEM FORÇA! – ouvi Joseph gritar.



Sério, naquele momento eu quis dar meia volta e acertar seu peito com uma voadora.



***



Entrei no meu quarto e arremessei minha mochila contra a parede, deixando uma rachadura na mesma. Andei até a janela e observei as folhas das árvores caindo. De repente, Stéph apareceu do outro lado da janela, com expressão de raiva. Assustei-me e recuei um passo, pondo uma das mãos sobre o peito.



- O que você ainda está fazendo aqui? Temos um vampiro para matar. – ela abriu a janela e puxou-me para fora.



Vi seu braço enfaixado e senti dó. Stéph viu para onde eu estava olhando e sussurrou.



- Não se preocupe com isso. Já melhorei. – desenfaixou-o e alongou o braço. – Vamos, temos que correr. – seus olhos verdes estavam misteriosos.



E foi isso que fizemos.



Corremos rápido.



Rápido até demais.



***



Não acredito nisso. Não acredito mesmo.



- Paul? – apertei meus olhos um pouco e aproximei-me.



- Há quanto tempo, Adamson! – sorriu, mostrando as presas afiadas.






 Lucy havia me explicado o motivo de deixar Sam e Joseph virem me visitar. E adivinhem só: porque eles foram muito fofos pelo fato de estarem se importando comigo. Então, falei para ela que Joseph só estava tentando-me “assediar” e que não havia tarefa de casa. E sabe o que ela respondeu? “Ora, mas que gracinha da parte dele. Você deveria investir no garoto, porque além de ser fofo e gente boa, tem uma beleza enorme” e sorriu. Fiquei atingida psicologicamente com o comentário dela. Enfim, falar com Lucy do meu romantismo para com os garotos estava fora de cogitação.



- Preste atenção, Lucy. Por favor, não os deixem virem mais aqui, certo? – pedi.



- Não posso fazer nada, querida. Se eles quiserem vir à nossa casa, o problema é deles e seu. Não sou eu que terei de inventar mentiras mesmo, então, não importa. – deu de ombros e levantou da cadeira. – E é melhor você se apressar. Não podemos perder a hora. Tenho sérios assuntos pendentes para resolver. – tomou o resto de seu café e dirigiu-se à porta.



- Como assim não se importa? Há muitas armas nos corredores. – levantei-me e a segui.



- Você inventou uma desculpa para elas, não foi?



Concordei com a cabeça.



- Então não terá mais problemas com as armas. – abriu a porta, saímos e a fechou.



Suspirei e mudei de assunto.



- Tá, mas o que são esses assuntos pendentes? – perguntei, andando ao seu lado, indo em direção ao carro.



- Assuntos que não lhe dizem respeito. – respondeu secamente.



- Espera. Oh, Lucy, não me diga que você é assassina de aluguel! – abri a porta do carona, ri e entrei.



- Mas é claro que não! – ligou o motor do carro.



Assustei-me. Ela realmente iria me matar do coração se continuasse fazendo essas aparições.



Pus o sinto de segurança.



- Não é necessário por o sinto de segurança. – olhou-me.



- Força do hábito, queridinha.



- Tanto faz. – Lucy arrancou, ligou o som e aumentou o volume.



Não acredito que Lucy estava ouvindo Fire Burning de Sean Kingston. Sério, eu nunca esperaria isso dela. Não que eu não gostasse de hip-hop, porque eu gostava.



- Não sabia que você gostava desse tipo de música. – apontei para o som.



- Há muita coisa que você não sabe de mim, querida. – respondeu e começou a agitar a cabeça conforme as batidas da música.



Olhei-a e meu queixo caiu, porque ela sabia cantar a música toda. Versinho por versinho.



- Pensei que você fosse o tipo de pessoa que só ouvisse músicas tediosas. – bocejei.



- Cale a boca! – sorriu e parou o carro. – Vamos, ande, saia do carro.



- Você pode me dizer, por favor, se o teletransporte existe? – tirei o sinto de segurança. – Porque assim, não irei me acostumar com essa rapidez nunca. – abri a porta e saí.



- Que velocidade? Para falar a verdade, acho esse carro bem lentinho. Estou pensando em trocar por um mais rápido, que tal? – sorriu com um ar de psicopata.



Revirei os olhos e fechei a porta do carro sem responder a sua pergunta. Virei às costas e caminhei em direção ao colégio, torcendo para que Joseph não estivesse me esperando como ele havia dito na noite anterior. Mas, como sempre, eu estava errada. Ele não só estava me esperando, como também estava com uma rosa branca em uma de suas mãos. E quando me viu, caminhou até onde eu me encontrava.



- Oi? – falou e sorriu.



- Oi... – respondi, olhando para o lado.



- Pensei que não viesse hoje.



- Pois é. Mas cá estou eu. – forcei um sorriso.



- Isto é para você. – mostrou a rosa e entregou-me, pegou uma das minhas mãos e beijou minha bochecha suavemente.



Sufoquei. Por que Joseph estava fazendo aquilo comigo? Aquela situação era muito tensa. Eu não queria que ele fosse adiante. Não mesmo.



Dei um passo para trás e cocei minha testa, com a rosa na mão direita.



- É melhor entrarmos. Está frio aqui fora. – consegui falar e olhei para o céu.



- O que houve? Você parece desanimada. – acariciou meu rosto, preocupado. – Não quer me contar? – pegou minha mão.



- Não, não quero. – afastei sua mão. – Vou entrar agora. – encolhi-me, caminhei para o portão do colégio e deixei o garoto com um ponto de interrogação na testa.



Eu não queria me apaixonar por Joseph. Não seria favorável, principalmente para ele, porque as pessoas que estão ao meu redor sempre sofrem, e eu não gosto disso.



- Você quer por a vida do gatinho em jogo? – reconheci a voz de imediato.



- Você não tem nada a ver com isso, loira. – respondi. – Você não entende minha situação. – olhei-a.



- Não quero saber disso, garota. – desencostou-se do armário onde se encontrava e andou na minha direção. – Disse para você não entrar no meu caminho.



- Mas eu não estou no seu caminho. É você que está no meu, Stéph. – não esperei por resposta e comecei a andar novamente, mas Stéph me puxou pela mochila.



- Não terminei de falar. – seus olhos verdes estavam em chamas.



- Mas eu sim. – olhei para sua mão que estava na minha mochila e voltei o olhar para ela. – Quer fazer o favor de soltar minha mochila? Preciso ir para minha sala.



Stéph, de má vontade, soltou minha mochila e apontou seu indicador para mim. Abriu a boca para falar algo, mas desistiu. Dei às costas para ela e caminhei para a sala de aula.



***



As aulas foram um saco, o intervalo foi um saco, meu dia foi um saco. Eu já estava cansada de tanto Joseph me olhar, de tanto Sam falar asneiras e de tanto ver Stéph bufar para o meu lado! Que incrível, agora sei que aquele vulto que me observara no meu primeiro dia de aula era ela.



Quando cheguei à minha casa, não quis comer nada, encaminhei-me rapidamente para meu quarto e nenhum vestígio de Lucy. Pus a rosa branca em um vasinho com água do lado da janela e sentei na poltrona que havia do lado dela. Olhei para a rosa, lembrei de Joseph, inclinei-me na sua direção e peguei-a. Senti seu perfume e pensei novamente em Joseph – sem querer.

Atenção

   Olá, queridos leitores (tenso), desculpem-me pela demora, mas é que eu estava sem tempo para escrever e a falta de criatividade estava enorme, mas voltarei a postar toda semana. Ah, depois ponho as plaquinhas, é que a minha amiga que faz o design do blog está com problemas, ou melhor, o seu computador é que está, há-há.
   Bem, é isso. E mais uma vez, desculpe-me. (:
São duas horas da manhã, e você deve estar se perguntando o porquê de Lucy e eu estarmos num beco de Londres uma hora dessas, enquanto poderíamos estar dormindo. Ah, é simples: porque estamos prestes a matar um lobisomem faminto. Isso mesmo. Um lobisomem. Meu segundo dia em Londres, e estou perto de ser morta.



Não, não estou, o lobisomem é que está, há-há.


Lucy encostou-se no conversível e olhou-me.


- É melhor você se apressar, querida. Ele já está vindo. – apontou para o Lobisomem que vinha correndo em nossa direção.


- Será que eu nunca terei um descanso? Tipo, depois de um dia longo e chato, pelo menos o que eu deveria fazer era tirar um cochilo ou tomar um sucozinho de maracujá para acalmar meus nervos, porque, realmente, estou precisando disso, amiga. – levantei uma hipótese para Lucy sem tirar os olhos do lobisomem. – Mas voltando ao foco, que é o nosso amiguinho ali – apontei - Como você quer que eu o mate sem ter uma arma adequada? – levantei meus punhos e endireitei-me.


Posição de ataque é fundamental. Bom, para mim é.


- Hm, bem pensado. Você pode tomar conta do trabalho com o punhal, o resto você deixa por minha conta. – olhou para suas unhas.


- Ah, dane-se. – revirei meus olhos e corri para o lobisomem.


Dei um salto mortal duplo e depois acertei o alto de sua cabeça com o calcanhar. O lobisomem guinchou de dor e caiu de queixo no chão, fazendo um barulhinho irritante. Aproximei-me dele, agachei-me e puxei o punhal que estava preso ao meu tornozelo. E o que houve a seguir não foi legal, porque o peludo puxou meu pé e eu caí de costas no chão molhado. Levantou-me pela perna, fiquei de cabeça para baixo e a única arma que eu tinha no momento, havia caído na poça de água. Droga! Tentei pegá-la, mas o lobisomem me jogou contra o poste e eu gritei de dor por causa do impacto.


- LUCY, AJUDE-ME! – estendi uma mão na sua direção.


Nunca pensei que eu fosse pedir ajuda a senhora-do-conversível.


- Francamente, Frankie. Você é bem mais forte do que isso e já enfrentou caras mais fortes, então não precisa da minha ajuda. – respondeu calmamente.


Como ela poderia estar tão calma, vendo-me levar uma surra? Estava sendo egoísta. Foi ela mesma que disse que ia me ajudar quando saímos de casa. Estou pensando realmente se aquilo foi da boca pra fora.


Fiquei de joelhos com as mãos no chão. Fui levantando aos poucos até estar totalmente de pé. Senti uma dor aguda na nuca e toquei-a. Estava sangrando. Minha respiração começou a alterar-se quando olhei minha mão ensangüentada, mas não de medo, e sim de raiva. Subitamente, soquei o posto que estava ao meu lado e ele caiu. Pois é, caiu mesmo. Olhei para Lucy. Ela estava tão surpresa quanto eu.


- MUITO BOM, GAROTA! MUITO BOM MESMO! – levantou um braço e começou a acenar freneticamente.


Sorri com a força que estava surgindo no meu corpo. Comecei a correr novamente, dessa vez mais rápido do que antes, golpeei o lobisomem na barriga e ele voou, mas um muro de pedras parou sua queda. Andei normalmente até ele, fiquei à sua frente e agachei-me.


Uh, aquelas criaturas eram feias.


- Seja homem e olhe para a garota que vai te matar. – puxei sua cabeça para trás. – Vamos, olhe-me! – exigi.


E olhou mesmo, mas com raiva. Então lembrei que estava desarmada e olhei para o lado, a fim de achar meu punhal. Excelente, irei morrer. O peludinho percebeu meu nervosismo e empurrou-me mais uma vez, no entanto, sem força. Caí ao lado da poça de água onde meu punhal havia caído. Recuperei-o e apontei-o para a direção do lobisomem que corria em alta velocidade. Não tive tempo de levantar-me e ele caiu em cima de mim. Só lembrei-me de erguer o punhal e acertar seu abdômen. O “cachorrinho” gritou de dor por uns trinta segundos sem parar e, finalmente, desmaiou. Oh, que peninha. Olhei-o e empurrei-o para o lado. Levantei-me, retirei meu punhal com brutalidade de onde estava e dei às costas para o corpo estendido no chão.


- E aí, Lucy? Gostou da minha apresentação? – levantei meu polegar.


Lucy apontou para o que estava atrás de mim sem falar nada e virei para olhar o que era. A próxima coisa que senti foi sangue escorrendo do meu peito. O lobisomem havia me arranhado profundamente e fez o favor de rasgar minha blusa de alcinha preferida, deixando a metade do meu sutiã à mostra. Caí no chão de bunda, pressionando meu corte com a mão. Poxa, eu estava desprevenida. Ele pulou na minha direção, mas algo o acertou. Olhei para o lado assustada e vi Lucy com a arma apontada na direção do peludo. Voltei o olhar para ele e senti dó, porque estava se contorcendo no chão de tanta agonia, ao mesmo tempo em que virava humano e morria.


Porém, quando se transformou em homem novamente, ele não era tão feio. Foi um desperdício para a sociedade perder um cara com charme, mesmo que não fosse muito bonito.


- Ajude-me... – foi a última coisa que ele disse.


Acho que eu nunca iria me acostumar com o fato de matar lobisomens, porque eles eram humanos, e com vampiros era diferente, pois eram semimortos e “fominhas” que não se controlavam por sua sede de sangue, por isso, eu não tinha piedade com aqueles morcegos. Hm, deixe-me explicar uma coisa: quando eu matava os lobisomens, no final, era do mesmo jeito dos vampiros. Eles viravam cinzas. Infelizmente, não sei o porquê, mas era sempre assim. E foi o que aconteceu com o peludão que matei: virou cinzas e o vento espalhou-as pela rua.


Lucy aproximou-se de mim e olhou-me.


- Quem mandou você cantar vitória antes do tempo?! – perguntou, ao meu lado, levantando-me pelo braço. – Garota, você tem muito que aprender, mas você tem uma força incrível. Até mais do que eu, sabia? O máximo que eu consigo fazer são só uns socozinhos e puxões que quebram coisas frágeis. – pôs um braço em volta da minha cintura e continuou. – Eu realmente não conseguiria derrubar um poste só com um soco. Nem sua mãe, nem meus ancestrais e nem Sté... – pausou e olhou para o alto de um prédio. – Não acredito nisso. É melhor você entrar no carro, querida. Não está em condições de lutar.


Segui o olhar de Lucy e ouvimos um uivado alto. Lobisomem. Mais um? Nunca matei dois de uma vez. Empurrei Lucy para o lado e fiquei em posição de ataque, com uma mão sobre o arranhão que ainda sangrava. Olhei o lobisomem e ele segurou meu olhar. Pôs-se de pé e inclinou-se para frente como se fosse pular. Oh, não. Aquele era enorme. Maior do que o outro. MUITO maior. Peludo dois pulou na minha direção, e como eu não tinha nada a fazer, pus meus braços à frente do meu rosto – como se aquele gesto fosse me proteger de algo. Segundos depois, percebi que nada havia me atingido e tirei meus braços da frente. Não havia mais nada ali, a não ser as cinzas do peludo dois misturando-se ao vento. Olhei para Lucy com um ponto de interrogação no rosto e percebi que não fora ela que matara o lobisomem silenciosamente, e sim a garota que estava em cima do prédio. Lucy não desgrudava o olhar do dela.


A garota estava de pé, segurando uma arma dourada voltada para baixo em cada mão, olhando-nos com repugnância, e o vento deixava à mostra seu cabelo comprido e loiro.


Detalhe: ela era muito corajosa para estar usando um short curto e uma blusinha acima do umbigo numa madrugada fria. Também usava um tênis de cano longo e um colete minúsculo por cima da blusa MINÚSCULA. Enquanto eu usava um jeans apertado, uma blusa de alcinha – que fora rasgada tragicamente – e meu all star velhinho favorito. Espera aí, ela acha que veio para um desfile de moda? Porque a garota parecia mais uma modelo do que uma assassina.


A loira soltou um risinho sarcástico e olhou para Lucy.


- Oh, Lucy Hime, não acredito que esteja treinando crianças. – olhou-me e cruzou os braços. – E ainda por cima, uma hora dessas? Tsc, tsc. – balançou a cabeça de um lado para o outro, reprovando.


Criança?! Quem ela pensa que estava chamando de criança?! Quando eu chutasse o seu traseiro, ela iria ver quem era a Frankie de verdade. Nem esperei Lucy responder, intrometi-me no meio.


- Ah, é? E por que você não desce aqui para termos uma conversinha? – dei um passo à frente. – Desça aqui, minha filha. Aí você vai ver quem é a criança.


- Como quiser. – guardou as armas nos bolsos traseiros do short, inclinou-se, pulou do prédio com leveza, chegando ao chão sem fazer barulho e sem cair.


Jogou o longo cabelo para trás e caminhou na nossa direção, ficando diante de mim e olhou para Lucy.


- Hime, o que pretende fazer treinando essa pirralha? – piscou umas duas vezes seguidas, deixando claro que tinha olhos verdes e brilhantes. – Não estamos no jardim de infância para você inventar brincadeirinhas sem graça.


Eu ia protestar, mas Lucy me interrompeu.


- Stéph... Quanto tempo, querida. – estendeu os braços na direção da loira como se fosse abraçá-la, mas não houve ação da parte da tal de Stéph, então, continuou. – Já faz sete anos desde que você foi embora...


- Não quero saber disso, Hime. Quero saber o que está pretendendo fazer com essa baixinha. – interrompeu-a.


- Não preciso ensiná-la muitas coisas, porque ela teve uma mãe extraordinária que a treinou quando ainda era criança. – explicou. – Mas a Frankie precisa de muito treinamento, não é? – olhou-me e sorriu.


Nem respondi sua pergunta e muito menos retribui seu sorriso idiota. Fui logo ao ponto e avancei mais um passo, ficando apenas alguns centímetros de distância da loira.


- Quem é você, loira de farmácia? – perguntei. – Você não tinha nada a ver com a minha luta. Eu ia acabar com o lobisomem com apenas um dedo. – levantei meu dedo indicador. – E você fez o favor de me interromper.


- Ah, sério? – Stéph fez uma ceninha como se estivesse surpresa. – Porque eu não previ isso quando você pôs os braços na frente do seu rosto para se proteger. – inclinou-se para frente. – Não é um rostinho bonitinho que vai salvar as pessoas, garota. Entenda isso. – endireitou-se e pôs uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. – Por sorte você não morreu. Deveria estar me agradecendo.


- Agradecer? Faz-me rir, cara. Não posso morrer. – sorri sarcasticamente. – Ah, e estou prevendo um pé na bunda agora. – avancei, e numa tentava absurda, tentei segurar seu pescoço, mas ela se esquivou. Assim, do nada. Puf!


- Isso é jeito de tratar as pessoas que você acaba de conhecer? – falou por trás de mim.


Tentei olhá-la, mas Stéph chutou minhas costas e eu caí. E para falar a verdade, doeu pra caramba. Então, tentei me levantar, mas ela pôs o joelho em cima da minha coluna, pressionando-a com força. Puxou meu cabelo e falou em meu ouvido:


- Você não é uma pessoa digna para ser chamada de caçadora. Você é apenas uma garota fútil e arrogante. Ah, é mesmo. Havia me esquecido. Estou no mesmo colégio que você, e se entrar no meu caminho, pode acreditar, vai se arrepender de ter entrado nele. – Stéph puxou meu cabelo com mais força, empurrou minha cabeça contra o chão e levantou-se. – Não acredito que esteja treinando essa baixinha! – dirigiu-se à Lucy. – Assim... Não acredito mesmo! - havia indignação na sua voz.


- Stéph, você tem que entender nossa situação. Está ocorrendo algumas mortes nessa cidade, e temos que impedir que essas mortes continuem. – vi quando Lucy se aproximou de Stéph e segurou seus ombros. – Por favor, junte-se a nós. – eu poderia jurar que havia lágrimas nos olhos cinzentos de Lucy. – Não vá embora novamente, querida. – abraçou-a, mas a loira nem se mexeu, apenas revirou os olhos e libertou-se dos braços de Lucy.


- Ah, Hime, tenha dó. Não venha com seus abraços melancólicos. – ajeitou as roupas. – Nem adianta me fazer uma proposta dessas, porque você sabe muito bem que eu trabalho sozinha e não preciso da ajuda de ninguém. – olhou-me. – Quanto mais dessa anã de circo.


Ok, essa última frase não foi legal. Anã de circo? Eu não era tão baixinha assim. Fala sério!


Levantei-me com raiva.


- Olha aqui, garota. Não precisamos da sua ajuda, certo? Sou mais habilidosa que você, e pode acreditar, não haverá mais mortes. – limpei o sangue que estava escorrendo da minha testa, porque a machuquei quando minha cabeça foi arremessada contra o chão.


- Mas é claro que não. E sabe por quê? Porque eu matarei essas criaturas antes de você. – sorriu e virou as costas. – A propósito, é melhor você controlar essa raivinha amanhã, porque iremos nos ver. – pulou com velocidade, subiu o prédio em que a vi pela primeira vez e desapareceu na escuridão.


Olhei Lucy e ela estava olhando para mim. Havia preocupação em seus olhos orientais.


- Você está bem, Frank? – olhou para meus ferimentos.


- Oh, mas é claro, H-I-M-E. – enfatizei a última palavra. – Poupe-me dessas suas preocupações absurdas. Se realmente se importasse comigo, naquela hora em que pedi ajuda, não teria recusado. Eu quase morri...


- Ah, certo. Não te ajudei? Hm, vejamos. Quem matou o lobisomem para que ele não acabasse com a sua vida? – levantou uma sobrancelha. – Pare de não reconhecer o que faço por você. – virou-se para a direção do carro e andou até ele.


Ignorei o que ela falou e prossegui.


- E por que não me contou sobre a Stéph? – limpei o sangue da minha testa mais uma vez. – E que história é essa de “Hime”? – fiz aspas no ar.


- Por favor, falaremos disso no carro. – abriu a porta do motorista e entrou.


Deixei meus ombros caírem de tão cansados que estavam e arrastei-me até o carro preguiçosamente. Abri a porta do carona e entrei. Fechei-a com muita força e olhei para Lucy.


- Pode me explicar agora? – apoiei minhas mãos nos joelhos.


- Tudo bem. – suspirou. – Stéph foi minha, digamos, aluna. Encontrei-a na frente da minha porta há dezessete anos. Treinei-a até os dez anos, porque ela decidiu que sozinha seria mais “vitoriosa”. – sorriu tristemente, apertando o volante. – Eu não a impedi, porque não era minha filha e ela já tinha noção de como era o mundo. Desde aquele dia, nunca mais a vi, até nos reencontramos hoje. Não sei explicar de onde aquela garota tirava tanta força. Ela é mais forte do que eu, porém, não supera você. – ela ligou o motor do carro e arrancamos. – Stéph me chama de Hime, porque significa “princesa”. E eu costumava contar histórias para ela envolvendo princesas vitoriosas. E meu sobrenome é Hime, então, traduzido fica: Princesa Lucy. Meus pais acreditavam que eu protegeria meu clã, mas não ocorreu o que eles esperavam. Fui covarde e fugi. – ela parou o carro e nem percebi que já estávamos à frente da mansão.


Eu realmente nunca iria me acostumar com a velocidade inexplicável do carro de Lucy. Chegamos à fração de segundos.


- Ah, e a propósito. Stéph usou uma arma silenciosa e de rápido efeito. Foi por isso que você não ouviu nada. – explicou-me.


- Não quero que você cuide de mim para substituir o vazio que a Stéph lhe deixou. – falei baixinho, ignorando seu último comentário. – Eu posso me virar sozinha. – abri a porta e saí do carro.


Quando eu menos esperava, Lucy estava à minha frente. Assustei-me e levei minha mão esquerda até o coração. Ela realmente tinha que parar com isso.


- Frankie, você não está substituindo o vazio que Stéph me deixou. Eu vejo algo a mais em você do que essa arrogância. Você se importa com os outros. – pôs uma mão sobre meu ombro e sorriu. – E pode fazer o que quiser pelas pessoas que não morrerá. – apontou para a ferida do meu peito. – A menos que cortem sua cabeça.


Olhei para meu peito e não havia mais nada. A ferida havia sumido e só minha roupa ficara ensangüentada e rasgada. Toquei o lugar onde o lobisomem tinha me ferido e levei minha mão a testa. Toquei-a e não havia mais sangue. O mesmo vale para a minha nuca machucada. Sem arranhões. Olhei para Lucy e sorri pausadamente, ficando impressionada. Eu nunca havia me recuperado tão rápido daquele jeito.


- Lucy, o que significa isso? – segurei os seus braços entre as mãos, com força, mas eu estava sorrindo.


- Hm, acho que você está “crescendo”. – respondeu-me.


Soltei seus braços e passei meus dedos entre os fios do meu cabelo. Ri alto, com uma intensa alegria, girei e em seguida, abracei Lucy.


- ISSO É DEMAIS! – gritei, olhei Lucy e a vi sorrindo.


Parei de abraçá-la e corri em direção à varanda, gritando mais uma vez:


- ISSO É DEMAIS! – abri a porta e entrei na mansão.


A minha casa. É, isso soava bem.


***


Ouvi uma voz masculina perto da minha orelha. Eu provavelmente estava sonhando. Nenhum cara viria me visitar. Sorri de olhos fechados e apertei o travesseiro contra minha bochecha.


- Frankie? – disse a voz nos meus sonhos.


Mas que voz legal o cara tinha. Era brasileiro com um pouco de sotaque inglês. Apertei mais ainda o travesseiro contra minha bochecha e cocei meu olho. Abri-o um pouco e vi um vultozinho moreno sentado à minha frente, olhando-me com curiosidade.


Que lindo. Eu já estava imaginando coisas. O vulto parecia até o Sam. Sorri e pus a mão em cima da minha barriga. Espera. O Sam? Abri meus olhos com rapidez e fitei o teto.


Ah, que bom, não era o Sam.


Mas meus pensamentos caíram quando senti uma mão morena apertar minha bochecha com delicadeza.


Sentei rápido, olhei Sam e arregalei meus olhos.


- Uau, eu realmente deveria ter vindo aqui antes. – sorriu maliciosamente e filmou-me dos pés a cabeça.


- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?! – perguntei o mais alto que pude, ao mesmo tempo em que puxava as cobertas para me cobrir.


- Ué, não vai me dar um “Boa tarde, Sam. Que bom que veio me visitar”? – cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.


- BOA TARDE?! QUE HORAS SÃO, SAM?! – puxei o pulso dele, onde havia um relógio. – OH, MEU DEUS! TRÊS E MEIA DA TARDE?! POR QUE LUCY NÃO ME ACORDOU?! EU NÃO ACREDITO QUE PERDI MEU SEGUNDO DIA DE AULA! – eu estava louca.


- Segundo dia de aula? Você quer dizer o quarto dia de aula, não? – coçou a cabeça. – Por quanto tempo você dormiu, Frankie?


- QUARTO DIA DE AULA?! – levei minhas mãos às bochechas. – Não acredito que dormi durante três dias seguidos! – levantei-me, esquecendo as cobertas em cima da cama.


Percebi que Sam estava me olhando um tanto interessado. Então, olhei-me.


Oh, não. Quem havia trocado minhas roupas? Por que eu estava usando meu short MINÚSCULO de dormir e minha blusa MINÚSCULA que ficava muito acima do meu umbigo?


Imaginei Lucy me trocando no dia em que eu apaguei totalmente. Ela que trocou minhas roupas.


Há-há, aguarde-me, senhorita Lucy.


Olhei Sam novamente, peguei as cobertas de cima da cama e enrolei-me. Puxei-o pela mão e arrastei-o até a porta.


- Escute-me, garoto. Não sei o que você está fazendo aqui no meu quarto, nem muito menos sei como achou a minha casa, mas só sei que você vai esperar lá na sala, entendeu? – fuzilei-o com os olhos, abri a porta do meu quarto e empurrei-o para fora.


- Perfeitamente, Fran. – sorriu e deu uma piscadinha.


- “Fran” uma ova. – bati a porta na sua cara, sem esperar por uma resposta.


Não acredito que Lucy deixou Sam vir me visitar. Ela teria que me ouvir muito quando eu a visse.


Joguei os lençóis na cama e caminhei para o banheiro. Olhei-me no espelho e eu estava horrível. Fiz uma careta de nojo. Liguei a torneira e joguei água no meu rosto, escovei os dentes e fui para debaixo do chuveiro. Tomei um banho SUPER demorado, porque eu havia dormido durante três dias seguidos e, bem, era o mínimo que eu podia fazer. Desliguei o chuveiro e peguei a toalha. Dirigi-me a meu quarto. Abri a gaveta da penteadeira, peguei um jeans preto e uma blusinha branca. Vesti-me, enxuguei meu cabelo com a toalha e calcei meu par de tênis azul.


Saí do quarto e nem me preocupei de arrumar a cama. Desci as escadas com pressa e encontrei Sam sentadinho no sofá, olhando as coisas em volta e, quando me viu, assobiou.


- O que é que você está fazendo aqui, Sammuel? – fiquei à sua frente e cruzei os braços.


- Eu estava preocupado, já que você faltou três dias seguidos. Aí, resolvi vir visitá-la. – sorriu.


- Mentiroso... Você mal me conhece. Só me viu um dia na vida e já fica com saudades? Faça o favor de contar outra, Sam. – joguei-me ao seu lado no sofá. – Como achou minha casa? – olhei minhas unhas despreocupadamente.


- Bem, eu perguntei a Lucy. Eu a vi no colégio. Acho que ela estava falando com o senhor Antônio sobre suas faltas, sabe. Então falei com ela e perguntei onde você morava, porque eu queria trazer os assuntos que você perdeu esses dias, e Lucy me disse que eu poderia vir aqui. – olhou-me.


- Primeiro: como você soube que eu moro com a Lucy, e segundo: onde estão esses assuntos? – perguntei sem interesse algum.


- Bom, vi você descendo do conversível preto no dia em que te conheci, e vi Lucy à frente do volante. E, bem, não há dever de casa, porque os professores não passaram nenhum. – riu pausadamente. – A verdade é que Joe queria te ver e está lá fora neste momento.


- Não há dever de casa?! E quem, por acaso, é Joe?! – inclinei-me para ele. – Você está zoando com a minha cara, Sam?!


- Claro que não estou! Joe é Joseph. O cara queria te ver. – explicou-se rapidamente. – O cara está gamado em você, poxa!


- Faz-me rir, gatinho. – ajeitei meu cabelo e cruzei as pernas. – Joseph mal me conhece para estar “gamado” em mim. – fiz aspas no ar. – Quem, em sã consciência, iria gostar da minha pessoa? – soltei um risinho.


- Ele, ué. – deu de ombros. – Você atraiu o cara, Frank. Como um imã, entendeu? – gesticulou com as mãos.


- Não. – fiz um olhar de quem estava totalmente cansada daquela conversa. – E também não quero entender, Sam. – descruzei minhas pernas e apoiei-as sobre uma mesinha que havia à frente do sofá onde estávamos sentados. – Mas e aí? Vai deixar o cara morrer de frio lá fora? – roí uma unha e olhei para o nada.


- Você quer que eu o chame para se juntar a nós? – olhou-me com cautela.


- Não. Imagina, querido. – olhei-o e pus MUITA ironia na minha resposta. - Deixe-o congelar debaixo das árvores, até que o sol apareça e o derreta. – sorri com falsidade e fiquei séria. – Vai chamar logo esse garoto, Sam! – suspirei, saindo “fumaça” pelas minhas narinas.


- Frank, como você é má. – levantou-se.


- Mais do que você imagina, fofo. – apertei meus olhos e dei mais um risinho falso.


Sam não respondeu nada, apenas assentiu com a cabeça, virou-se, caminhou até a porta, abriu-a, saiu e deixou-a aberta.


O Sam? Hm, deixe-me pensar... Ah, o Sam é um folgado, que chega à casa dos outros e invade seus quartos, depois disso, sai e deixa a porta aberta como se fosse a sua própria casa...


Mas antes que eu pudesse concluir meu julgamento sobre Sam, ele já estava de volta, exibindo um sorriso de orelha a orelha, ao mesmo tempo em que escancarava a porta e deixava o vento gelado da tarde entrar. Nenhum vestígio de Joseph.


Suspirei de alívio, fechei meus olhos e sorri por dentro, entretanto, quando os abri novamente, Joseph estava de costas, acabando de fechar a porta. Virou-se, olhou de Sam para mim e lançou-me um sorriso encantador.


Ok, não sei o que houve, mas eu levantei subitamente e corei. Não sei se foi a roupa do cara, ou seu sorriso, mas fiquei SUPER vermelha. Qualquer uma ficaria se o visse vestido daquela forma. Joseph usava uma malha azul escuro que ia até os pulsos, super apertada, deixando à mostra - sob a malha - seus bíceps, seu peito largo, seu abdômen, enfim, sua musculatura elegante, que deixou meus pensamentos desorientados; um jeans não muito apertado e um par de all star. Estava mais arrumado do que a primeira vez que o vi, menos o seu cabelo bagunçado que o deixava com charme.


Joseph desceu os dois degraus que havia depois da porta, começou a caminhar até onde eu estava, parou à minha frente e passou os dedos de sua mão direita entre os fios de seu cabelo.


- Linda... – sorriu.


- O quê? – nem prestei atenção no que ele falou.


- Você está linda... – aproximou-se de mim mais um pouco.


Meu coração quase que saía pela boca. Em seguida, pisei no meu cadarço e tropecei, caindo para frente, mas Joseph me segurou pela cintura e sussurrou algo em inglês - que eu não consegui decifrar.


- Ah, corta essa. – ri histericamente e, mais do que depressa, afastei-me dele e caminhei – quase correndo – na direção de Sam.


Puxei-o pela manga de sua camisa e joguei-o no sofá onde estávamos sentados há pouco tempo. Sentei-me ao seu lado, olhei para o nada e fiquei cantarolando baixinho de tão nervosa que estava. Um segundo depois, Joseph sentou do meu lado e cruzou os braços diante do peito.


Eu estava entre dois garotos fortões e gatos e não tinha controle da situação, mas por sorte, Sam começou a conversar.


- Frank, quando fui a seu quarto, percebi que nas paredes do corredor há muitas armas. Hm, estão com medo de ser assaltadas ou o quê?


Oh, não. Eu realmente tinha que inventar mais uma mentira. Olhei para o teto em busca de resposta.


- Bem, é que... Os pais de Lucy eram... Eram... Caçadores de animais, sabe. Por isso que há tantas armas. – cocei minha testa com nervosismo.


- Mas não é proibido? – Sam levantou uma sobrancelha.


- Eu disse “eram”, dã. E naquela época não era proibido. Pelo menos, eu acho que não. – expliquei.


Joseph cutucou meu ombro de leve e perguntou algo desnecessário - acho que ele leu meus pensamentos, porque eu realmente não queria continuar aquela conversa sobre armas e blábláblá.


- E então? Por que resolveu morar neste país? Os estudos, é isso? – lambeu os lábios suavemente.


- Sim... – respondi quase sufocando com a lambida de seus lábios.


- Legal. Moro aqui desde meus onze anos de idade. Você irá se acostumar, ainda mais se estiver com alguma companhia, talvez. – sorriu, mostrando todos os dentes.


Dentes branquinhos da Silva, beleza?


- Com toda a certeza. – sorri debilmente.


- Vai ao colégio amanhã, não é?


- Claro... – minha voz saiu feito um piado.


Depois disso, ninguém mais abriu a boca. Passamos uns cinco minutos calados – só olhando para o nada – sem nos mover. Minha coluna já estava doendo.


Por favor, por que Sam não estava falando nenhuma idiotice?


Salve-me quem puder!


Por isso, olhei para frente e levantei-me.


- Com licença, rapazes. Mas acho que já está ficando tarde, e é melhor você dois irem para as suas casinhas. – indiquei a porta com o dedo sem olhá-la.


O primeiro que levantou foi Joseph e depois – com muita preguiça – Sam.


- Bom... Até amanhã? – perguntou Joseph.


- É. – pus minhas mãos na cintura.


Joseph inclinou-se para mim, afastou meu cabelo com a mão e sussurrou em meu ouvido:


- Espero você amanhã. – falou. - Estarei lhe esperando à frente do colégio. – seus lábios roçaram na minha orelha de leve, fazendo-me arrepios.


Então, beijou minha bochecha rápido e caminhou até a porta. Abriu-a e desapareceu por ela.


Olhei para a porta e voltei meu olhar para Sam.


- Sabia que ele se arrumou todo só para ver você? – pôs uma mão em um bolso de sua calça e caminhou em direção a porta, como Joseph fez. – Tchau, Fran. – mandou beijinho, acenou e desapareceu pela porta, fechando-a.


Fiquei parada no meu lugar, feito estátua, olhando para a porta. Depois de um minuto foi que consegui organizar meus pensamentos e sair daquele estado de transe. Sentei no sofá e deitei-me.


Quatro dias em Londres, e um cara já estava arrastando uma asinha para mim? Que loucura. E ainda por cima o cara era muito lindo. Esqueci até que “odiava” Joseph.


Ri baixinho e fechei meus olhos.