
Cheguei à casa de David gritando – gritando mesmo. Eu estava chorando incontrolavelmente. Eu tinha saído de casa com um bolo na garganta e só vim “vomitá-lo” quando estava perto da casa do meu amigo.
- DAVID! DAVID! – gritei da varanda. Tive que esmurrar a porta de sua casa. – Por favor, abra. É urgente! – eu só estava a esmurrando, porque sabia que não havia ninguém em sua casa, além dele, claro.
David abriu a porta assustado. Caí sentada no chão, feito um trapo, soluçando alto, e quando ele percebeu a situação em que eu estava, levantou as sobrancelhas e pôs a mão sobre a boca.
- O QUE FOI QUE HOUVE, FRANKIE? – ele se ajoelhou à minha frente aterrorizado, pegando em meus ombros. – Diga-me o que houve de tão urgente! – começou a me chacoalhar para tentar obter alguma resposta.
- Eu vou embora daqui. – olhei-o fixamente. Meu rosto estava inundado pelas lágrimas de tristeza. – Talvez para nunca mais voltar. – soquei o chão e, bem, o lugar onde soquei afundou.
- Como assim? Isso não pode estar acontecendo. Você não pode ir embora de uma hora para outra. – David retirou uma das mãos que estava em meu ombro para enxugar meu rosto gentilmente. – Fique calma. Do jeito que você está, vai me deixar mais nervoso. – levantou-se e estendeu a mão para mim. Eu a peguei e levantei, porém, nesse momento o abracei fortemente, escondendo meu rosto na mesma camisa que eu tinha molhado com minhas lágrimas há algumas horas atrás. – Ei, calma, estou aqui. – acariciou minha nuca. - Agora vamos lá para dentro, aí você me conta o que houve. Tenho todo o tempo do mundo só para você. – ele afagava meu cabelo com carinho.
- Esse é o problema, David. Não tenho tempo. – eu o apertava mais ainda para junto de mim a fim de não libertá-lo tão fácil. – Eu vou ter que ir embora, talvez para nunca mais voltar. – David não respondeu nada, apenas beijou o alto da minha cabeça, afastou-me um pouco de si, e olhou para mim.
- Sempre estarei em você, esteja onde você estiver. – pôs o meu cabelo atrás da orelha para poder me olhar melhor. – Sei que você não vai gostar do que irei fazer agora, mas eu tenho que fazer, eu preciso fazer. – puxou-me mais um pouco para junto dele.
Primeiro beijou minha testa, depois minha bochecha, tocou meu queixo para que meus lábios ficassem bem próximos dos seus e finalmente, beijou-me docilmente. Ele pôs a mão em minha nuca e a outra em minha cintura. David não me beijou com fúria como da outra vez, pelo contrário, havia suavidade em seus lábios. Dessa vez, eu reagi. Poderia ser a última vez que via meu melhor amigo. Pus minhas mãos em volta do seu pescoço e fiquei na pontinha dos pés por ser muito baixinha. Eu queria aquele beijo mais do que nunca. O guardaria para todo o sempre na memória. Foi um momento calmo, mas eu estava apavorada. EU ESTAVA BEIJANDO MEU MELHOR AMIGO, e não podia evitar, porque eu queria. Mas mesmo assim, não deixava de ser esquisito e eu não sentia nada, nenhum coração acelerado, pelo menos da minha parte, porque o de David estava há uns cem quilômetros por hora, sem exagero. Ou seja, eu estava beijando só por beijar.
Então, David parou de me beijar, afastei-me um pouco dele para ver sua reação. Ele sorriu, abraçou-me fortemente e olhou-me. Acariciou meu rosto com as pontas dos dedos e beijou minha testa. E eu fiquei sem jeito e cocei minha nuca. Detalhe: ainda fiquei uns 10 segundos com minhas mãos no pescoço do cara, aí então percebi que elas ainda estavam lá, pigarreei e fiz o favor de retirá-las. Ah, e nem foi difícil entrelaçar meus dedos no cabelo dele com o braço engessado.
- Nunca me esquecerei deste momento, Frankie. – ele parou de sorrir e levantou uma das sobrancelhas. – Espera, quando você irá embora mesmo?
- Amanhã, porque implorei muito a meu pai, caso contrário, iria hoje mesmo. Mas tive a gentileza de vir me despedir de você e de Susan, já que eu não tenho outros amigos. – sorri timidamente.
- Amanhã? O quê? – David me soltou, andou um pouco até a saída da varanda, sentou na escada que havia logo na entrada de sua casa e pôs as mãos na cabeça indignado, deixando seu cabelo todo bagunçado.
Era incrível o jeito de como suas emoções mudavam tão rápido.
Olhou para mim com uma expressão triste. Fui até onde ele estava. Ajoelhei-me a seu lado e pus minha mão em seu ombro, apertando-o.
- Quero que amanhã esteja no aeroporto, tudo bem? – minha voz falhava, pois, havia outro bolo em minha garganta que não me deixava falar com clareza. Odeio chorar. Eu nunca tinha chorado tanto em toda a minha vida, até então.
Ele não respondeu nada, entretanto, pus a mão em seu queixo e puxei seu rosto para que ficasse bem perto do meu. Encostei minha testa na dele para poder olhar melhor em seus olhos, e as lágrimas começaram a jorrar.
- Tudo bem. – respondeu desanimado.
- Até amanhã. – despedi-me.
Beijei sua testa, levantei-me e fui para a rua. Eu não quis olhar para trás, mas sabia que David estava me observando, ainda sentado na escada, sem se mover e que estava chorando também, porque eu vi suas lágrimas rolarem junto com as minhas.
Muita tristeza para um único dia. Eu não agüentava despedidas, preferiria ter ido embora sem me despedir de ninguém, mas a dor seria maior, só de pensar o quão eles ficariam tristes com isso.
Fui aumentando os passos cada vez mais, até que comecei a correr. Chorei enquanto corria e não olhei para trás sequer um momento.
***
Cheguei à casa de Susan já controlada – um pouco. Havia parado de chorar, porém, ainda havia lágrimas em meus olhos. Subi os degraus da escada da varanda e bati duas vezes em sua porta, totalmente sem força e ânimo.
Quando Susan abriu a porta e me viu, abraçou-me. Não tive reação. Nem nunca tive para coisas inesperadas.
- Já sei de tudo, Frankie. – falou Susan. Sua voz estava baixa. – Sentirei sua falta, amiga.
- É só por um tempo... – retribui o abraço. – Eu acho. – afastei-me um pouco de minha amiga para olhá-la melhor. – Nunca esquecerei você, Susan.
Susan sorriu e bagunçou meu cabelo curto como sempre fazia. Eu odiava quando ela bagunçava meu cabelo, porque eu ficava parecendo um poodle logo em seguida, mas e daí? Era minha melhor amiga que fazia isso, poxa.
- Mas e aí? Vai fazer o que na Inglaterra? – perguntou, ainda sorrindo.
- David já te contou não foi? – levantei uma das minhas sobrancelhas.
- Sim. Ele ligou para mim avisando.
- Bem, meu pai quer que eu tenha um futuro mais brilhante. – menti.
Uau, eu estava ficando boa em contar mentiras, não que eu me orgulhasse disso, porque odeio mentiras. Só mentia porque era necessário.
- E qual cidade da Inglaterra você vai morar? – perguntou com certa curiosidade.
- Ainda não sei. – sorri debilmente. – Meu pai contou-me isso hoje. – tentei coçar meu braço por baixo do gesso.
- Tudo bem. Sentirei sua falta, Fran. – assentiu, com lágrimas nos olhos, todavia, ainda sorrindo.
- Também sentirei sua falta, Súh. – sorri, abaixando a cabeça.
- Promete que sempre escreverá para mim?
- Claro! – levantei a cabeça com um pouco de entusiasmo. Então, abracei-a.
- Amigas...
-... Até que a morte nos separe. – completei.
***
Quando cheguei à minha casa aquela mesma noite, perguntei a meu pai em que cidade eu iria morar. E adivinhem só, irei morar em Londres, não é fantástico?! Não! Para alguns pode ser um sonho, entretanto, para mim, é um pesadelo, além disso, vou trabalhar e não passear como uma pessoa normal. Papai havia pensado em tudo. Enquanto eu me despedia dos meus amigos e blábláblá, ele foi a diversas lojas e comprara coisas essenciais para uma pessoa que vai embora do seu país e vai morar num gelo total, como, roupas de frio.
Fui dormir com um vazio no coração – modo de dizer, porque não dormi -, pode-se dizer. Não queria dormir, e mesmo que eu dormisse, não queria acordar. Foi por isso que passei a noite acordada em frente ao computador fazendo nada. Eu não tinha sono. Quando o relógio marcou cinco e meia da manhã, despertou. Fazendo um barulho terrível, e como meu estresse já estava no “auge do sucesso”, peguei-o e arremessei-o contra a parede. Meu vôo estava marcado para as seis e meia da manhã. Como eu não havia pregado o olho uma vez se quer na noite, aproveitei para tomar um banho demorado e quente às cinco horas. Afundei-me na banheira a fim de morrer afogada, mas aí pensei em quantas coisas eu perderia se morresse. Enfim, desisti de me suicidar – seria uma tristeza para meu pai -, e no final do meu banho depressivo, só acabei espalhando água da banheira por toda parte do piso do banheiro, com raiva.
Levantei-me da banheira e enrolei-me na toalha. Fui para meu quarto, sequei meu cabelo um pouco com as mãos, vesti-me, saí do quarto e fiquei o olhando de forma nostálgica pela porta. Suspirei, desisti de olhar aquele passado e desci lentamente as escadas, tocando levemente o corrimão por onde eu costumava descer quando criança. Vi meu pai no final da escada de braços cruzados, olhando-me.
- Não fique assim, filha. – disse ele tristemente. – Quando tudo acabar, você poderá voltar para casa.
- Não sei se irá acabar. – falei baixinho.
- Quer comer algo antes de sair? – ofereceu, mostrando-me a mesa com algumas frutas.
- Não, obrigada. Estou sem fome. – respondi friamente, olhando para a mesa.
- Mas você não quis jantar, nem dormiu – que eu sei – e agora não quer tomar café. Você irá ficar fraca. – preocupou-se.
Foi aí que meu estresse explodiu por completo:
- Já disse que não quero! – gritei, todavia, em seguida comecei a chorar. Corri até onde estava meu pai. – Desculpe-me, papai. – o abracei como se aquela fosse a última vez que o veria.
Papai retribuíra meu abraço com carinho.
Eu realmente estava ficando depressiva.
- Tudo bem, filha. – sorriu, afastou-me de seus braços, virou as costas para mim e pegou minhas malas - que havia as arrumado na noite anterior. – Vamos. Acho que você está atrasada. – continuou com o sorriso triste.
***
A ida para o aeroporto foi silenciosa e melancólica. Meu pai não falou nada desde que entramos no táxi e saímos dele. Eu estava contendo as lágrimas para não gritar de dor. Meu coração estava doendo. Eu não queria deixar meu pai, ele era é muito indefeso, apesar de ser grandão. Eu estava tão preocupada com ele que nem percebi quando chegamos ao aeroporto. Meu pai somente olhou-me e abriu a porta em seguida.
Pagamos o motorista do táxi e entramos no aeroporto. Excelente. Não havia ninguém para a despedida. Ainda bem, pelo menos eu não choraria. Comecei a olhar para os lados. Havia centenas de pessoas ali. Eu, pela primeira vez, fiquei com medo, e não sabia o motivo. Entretanto, estava enganada. Vi um rosto parecido com o de David. Tá, era ele, mas não o reconheci de imediato, porque ele estava usando um boné de aba reta, virado para trás. Não sei o que veio fazer aqui. Ah, cara, esqueci! Fui eu quem o chamei.
Ele me viu e estava se aproximando...
Eu precisava fugir...
Era tarde demais!
- FRANKIE! – gritou. – FRANKIE! – gritou mais uma vez.
Eu parei de tentar fugir, não havia mais jeito. Então foi preciso responder.
- OLÁ! – respondi e acenei.
David se aproximou um pouco de mim.
- Eu queria vê-la antes que você fosse embora. – sorriu. Estava parado à minha frente. – Susan não pôde vir. Ela disse que seria muita tortura ver sua melhor amiga indo embora. – coçou a nuca e parou de sorrir. – Não quero que você vá embora, mas se é preciso, dê o melhor de si. – aproximou-se. – Eu amo você. – tocou meu rosto e beijou minha testa suavemente.
Comecei a chorar – eu tinha que parar com isso - e o abracei. Eu sabia que era a última vez que eu o veria. Eu sabia. Cara, onde é que meu pai estava para me tirar dali e acabar com aquele sofrimento?
- Eu também amo você. Muito. Você é e sempre será meu irmão. – sussurrei devagarzinho.
- E você sempre será a minha pequena. – senti que naquele momento ele sorriu. – Agora, deixe-me olhar para você. – afastou-se de mim, mas deixou suas mãos em meus ombros. – Olha só, não deixe de se cuidar, faça muitos amigos e não deixe de arranjar um namorado, que é o que você precisa. E não venha com aquela história de que é perigoso.
- Ok, “papai”. – sorri. – Digo o mesmo, tá? E dê uma chance a Susan.
- Pode deixar e... – ele ia dizer mais alguma coisa, mas o meu vôo já ia sair e eu precisava correr.
Meu pai surgiu do nada. Aposto que ele sabia que David estaria ali. Fuzilei-o com os olhos, mas eu sorri e agradeci somente com o olhar, e eu tenho certeza de que ele entendeu.
- Hora de ir. – voltei os olhos para David e ele estava segurando o choro. – Não chore. Eu realmente não gosto de ver você triste. – acalmei-o enquanto enxugava as lágrimas que tinham começado a cair de seus olhos verdes.
Os olhos verdes mais belos que eu já vira e que nunca deixei de amar.
- Promete? – enxugou os olhos.
- Prometo. – sorri.
- Vamos, querida? – meu pai chamou erguendo minhas malas.
- Vamos. – toquei o rosto de David, o abracei pela cintura com rapidez pela última vez e me virei.
Continuei a andar pelo meio da multidão sem olhar para trás.
Estou batendo as asas, e eu sei que não vou voltar. Vou ao rumo do meu propósito. Ah, é. Ainda não sei o que é de verdade a tristeza, mas estou aprendendo agora o que é saudade. Os sentimentos que eu tinha estão se transformando em palavras agora. Acordei desse mundo de sonhos sem caminhos, agora, esticarei minhas asas e voarei.
Que triste :'(
Muito muito bom! *-*
Ountxi meu Deusuh , eu fiko imaginando a cena!
ééééé siiim essa blanzinha vai embora!!kkk parabéns muier!
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