- Stéph, agora não é hora para rivalidade! – exclamei alto. – Temos que acabar com ele imediatamente! – olhei-a. A minha respiração estava alterada.
- Que seja, Frankie! – respondeu-me, torcendo o pescoço de um lado para o outro, pronta para atacar.
Stéph correu até o vampiro e o socou no rosto com força - o cara nem teve tempo para pensar em se esquivar. O soco fez com que ele voasse em linha reta por uns cinco metros e, finalmente, caísse numa poça d’água. Ah, esqueci de contar. Tenho uma visão apurada para cálculos, mas, infelizmente, esse dom só aparece em situações desse tipo.
- Não acabei com você ainda! – Stéph correu em direção ao vampiro novamente. Pegou a perna do “morcego”, torceu-a e riu histericamente. Havia um tipo de prazer em seus olhos.
Ouvi ossos estralarem e o vampiro gritou de dor. Deixe-me explicar uma coisa: eu gosto de acabar logo com o sofrimento dessas coisas, mas no pouco tempo em que vi Stéph lutando, ela realmente gosta de fazer as criaturas sofrerem. Um tipo de sádica, talvez.
- Stéph, acalme-se! – corri até ela, sabendo o que iria ocorrer em seguida.
- Ah, cale... – ela não teve tempo de terminar a frase, porque o vampiro – mesmo com a perna quebrada – pegou o seu pescoço, ergueu-a e eu só fiquei os olhando. Perplexa.
Uma regra: nunca tire sua atenção da coisa que você está fazendo. Numa luta, principalmente. E foi isso que Stéph fez. Virou-se para dizer uma duas palavras, o “filhote de cruz credo” achou uma brecha e conseguiu pegá-la de jeito.
- Acabarei com você aqui e agora, depois pego a baixinha bonitinha ali. – o vampiro falou com satisfação e sorriu.
- Só... Nos... Seus... Sonhos... – Stéph hesitara entre as palavras, mas conseguiu chutar o queixo do vampiro com o joelho e, mais uma vez, ouvi ossos estralarem. Que nojo!
A loira caiu no chão de joelhos e, ao mesmo tempo, tossindo feito uma condenada. Por pouco o vampiro não a estrangulou. Então, percebi que aquela situação era a minha deixa. Aproximei-me do vampiro calmamente e levantei-o pelo cabelo. Chutei sua barrigada duas vezes e o arremessei por cerca de dez metros – minha visão apurada para cálculos fez-me enxergar isso novamente. Ele caiu sentado, junto a uma árvore. Aproximei-me mais uma vez dele, puxei minha estaca da jaqueta, agachei-me à sua frente e cravei-a em seu coração. O tédio estava me matando. Bocejei.
- Tchau, aberração. – falei, olhando em seus olhos. – A baixinha bonitinha aqui, acaba de banir você do mundo. – zombei.
O vampiro olhou desesperado para seu peito, olhou-me, cuspiu sangue e virou cinzas.
- Criaturinha repugnante. – levantei-me e limpei o suor da minha testa. – Eu preciso tirar uma folga. – suspirei e peguei a estaca que havia ficado no chão.
- Você se acha muito esperta, não é? – disse Stéph, aproximando-se e contornando-me. Seu pescoço estava com as marcas dos dedos do vampiro.
- O suficiente para ignorar qualquer comentário que venha da sua parte. – guardei a estaca na jaqueta e olhei-a melhor. – Preciso ir. Está ficando tarde e não quero me atrasar para a primeira aula de amanhã – comecei a caminhar, mas a loira segurou-me pelo cotovelo. Olhei para sua mão em meu braço e voltei o olhar para o seu. – Você é um “pé no saco”, garota. – falei e puxei meu braço, mas ela não o soltou. Puxei novamente e bem... Ela não o soltou! – Olha só, não quero brigar com você, porque eu teria que quebrar esse seu narizinho arrebitado... – Stéph socou meu nariz e soltou meu cotovelo, ficando em posição de ataque. Nem esperou eu terminar minha frase! Que covardia.
Ok, eu não esperava que ela fosse me bater. Eu não gosto de brigar, mas há muito tempo eu queria dar uma surra em Stéph! Eu vinha aturando essa garota há um mês. Minha paciência tinha limites e ela havia acabado de esgotar!
- Não vejo motivos para você ter batido em mim. – massageei meu nariz um pouco e comecei a amarrar meu cabelo. – Não vejo mesmo. – levantei uma sobrancelha.
- Ah, não? Só pelo simples fato de você existir já é um motivo para eu te bater. – apontou seu dedo indicador para mim, intimidando-me. – E por você sempre ficar com os créditos de tudo. – endireitou-se novamente.
Sua posição de ataque era diferente da minha. Ela ficava ereta, com a mão direita nas costas e a outra levantada até a altura do rosto. Enquanto eu ficava feito um gângster de rua.
- Beleza, você quer brigar, então... – tomei outro soco na cara e nem vi quando ela se aproximou. Desequilibrei-me. – Uh! – foi o que consegui dizer.
Stéph não me deu tempo. Chutou minha barriga com força e eu tossi totalmente sem ar. Pegou meu rabo-de-cavalo e o puxou, jogando-me no chão.
O que estava acontecendo comigo? Por que eu não estava reagindo? Minhas forças? Eu não as encontrava. Nunca havia ocorrido isso antes. Nunca!
Loira-sádica-psicopata ia afundar meu tórax com o pé se eu não tivesse me esquivado rápido, ao invés disso, ela afundou o chão. Pus-me de pé. Cambaleei para o lado e limpei o sangue que estava escorrendo do meu nariz.
- O que está ocorrendo, Frank-anã? Está com medo? – sorriu e estalou os dedos das mãos. – Não conhecia essa sua parte covarde.
Ser chamada de covarde foi a gota d’água!
- VOU TE MOSTRAR QUEM É A COVARDE! – corri até ela e sem perceber, novamente, levei mais um soco no rosto.
Cuspi sangue. Muito sangue! Eu estava começando a ficar tonta. Stéph iria bater na minha cara com o cotovelo, mas aquele movimento rápido eu consegui captar e segurei-a pelo braço. Girei-o, fazendo-a cair e ouvi um “crack” nojento, mas ela não gritou. Não tenho certeza se quebrei seu braço, só sei que em seguida, mesmo caída no chão, ela chutou meu estômago com força e eu recuei uns três passos, o suficiente para ela levantar-se.
- Acha que, quebrando meu braço, vai se safar da surra?! – apertou o braço quebrado com o direito.
- Eu não queria quebrar seu braço... – expliquei, quase sufocando.
- Acha que, só porque é mais forte, irá vencer sempre?! – andou um pouco para frente. Mancando.
Hm, não me lembro de ter acertado sua perna.
- Responda-me, caramba! – exaltou-se.
Não respondi. Eu estava confusa e zonza.
- Sua cretina! – ofendeu-me.
- Já chega, garotas. – disse Lucy. Aparecendo do nada e ficando entre Stéph e eu. Sua expressão passou de séria para nervosa. – Espero que não ocorra mais isso! Que vergonha, gente! Vocês podiam ter resolvido isso na base do diálogo. E não utilizar a força bruta! Que ridículo! – olhou Stéph de cima a baixo. – Anda, vamos. Vou cuidar desse braço e dessa perna. – pôs sua mão direita sobre o ombro de Stéph. – E você, mocinha. – olhou-me. – Não precisa se preocupar, porque esses arranhões, hematomas e blábláblás, já estão se curando.
- Não preciso da sua ajuda, Hime! – Stéph afastou-se de Lucy. – Posso me curar também. – disse, olhando no fundo dos meus olhos. – Não tão rápido quanto ela, mas consigo. Talvez um processo mais doloroso e desconfortável, mas... – abaixou a cabeça, calou-se por alguns segundos e falou baixinho. – Vou embora. – olhou Lucy, olhou-me novamente e advertiu-me. – Espero não ver você amanhã, idiota. – deu-nos às costas e saiu correndo entre as árvores - com dificuldade.
Olhei para o lado. Eu não estava mais sentindo dor, mas me senti mal por isso.
- Eu não queria machucá-la. – falei, olhando para o nada.
- Psiu... – Lucy afagou minha cabeça. – Vamos embora. – sua voz estava embargada.
***
Acordei sem vestígios de hematomas, arranhões, dor, ou algo do tipo. Não era justo eu me curar tão rápido. Eu queria saber, pelo menos, qual era a sensação de ter uma cicatriz gravada no meu corpo, porque nem isso eu tinha. Só havia cicatrizes dentro de mim, no meu coração, entretanto, eu não podia enxergá-las. Talvez eu esteja numa paciência duradoura, porém, estou chorando por dentro. O “sonho” que escolhi, não há como desistir dele. Apesar de eu ser aquela que se esconde nas sombras, quando eu encarar o meu próprio sonho, não deixarei que ele se vá, se um dia eu escolher um real.
Eu estava encarando os portões do colégio sem querer, com um olhar morto. Tive a leve sensação de ter ouvido passos vindos na minha direção - e eu não estava errada.
- Oi. – cumprimentou-me uma voz feminina.
Virei meu rosto aos poucos e franzi o cenho.
- Oi... – respondi sem ânimo.
- Eu sou nova aqui no colégio. Cheguei ontem da Espanha, então eu queria que você me ajudasse. – a garota deu um sorriso largo. – Pode ser?
Eu perguntei alguma coisa? – tive vontade de dizer.
- Você não parece espanhola. – falei secamente, ignorando seu pedido de ajuda. – Nem sotaque você tem.
- Ah. – deu um risinho histérico.
Ótimo. Outra mala apareceu na minha vida.
– Não, não. Sou do sul do Brasil. Mudei para a Espanha ano passado e minha família teve que se mudar para esse país de... – sinto que ela iria dizer uma palavra não muito agradável. - Enfim, por causa do trabalho dos meus pais. – sorriu novamente.
Como aquela conversa estava me deixando feliz – para não dizer o contrário. Eu queria me matar. Forcei um sorriso.
- Então, poderia me ajudar? - ajeitou a mochila um pouco. Parecia desconfortável.
- Não sou a pessoa mais adequada para te ajudar. – cruzei os braços. – Estudo nesse colégio há um mês. Não conheço praticamente nada daqui. – comecei a bater meu pé no chão. Impaciente.
- Por favor. Preciso da sua ajuda agora. – ficou séria e encarou-me. – Não estou brincando. – sua voz pareceu ficar rouca.
- Nem eu. – levantei uma sobrancelha, virei para a entrada do colégio e deixei-a falando sozinha.
Olhar estranho.
Roupas estranhas.
Conversa estranha.
Garota totalmente estranha.
Ela estava vestida feito uma gótica. Botas pretas até a metade de sua panturrilha; saia vermelha até a altura do joelho; camisa preta; maquiagem super esquisita e sombria; longos cabelos vermelhos e grandes olhos castanhos. Aquela garota não parecia ser boa coisa.
Enquanto eu andava pensando sobre o ocorrido, pelos corredores do colégio, esbarrei em Sam sem querer.
- Ah, cuidado! – ele não havia percebido que quem havia esbarrado nele era, na verdade, eu. Então, olhou-me e deu um grande sorriso feliz. – FRANKIEEEE! – gritou e abraçou-me – eu não esperava por isso. – Que saudades, garota! – soltou-me, mas deixou suas mãos em meus ombros.
- Não há como você sentir saudades. Tenho duas aulas na mesma sala que você. – fiz olhar de tédio. – Além disso, você me vê todos os dias.
- Não, você está distante. Toda vez que eu tentava falar algo, você sempre desaparecia do nada. E bem, você está sentando no fundo da sala. – retirou as mãos dos meus ombros e espreguiçou-se, um tanto sonolento. – Por favor, não se esqueça de falar com...
- Ok, foi bom te ver também. – interrompi-o e dei-lhe às costas.
É. Eu sei. Foi falta de educação da minha parte.
***
Peguei meu lanche e sentei numa mesa qualquer. Estava muito bom, até que Sam e Joseph juntaram-se a mim e sentaram-se à mesa. Conversando e sorrindo um para o outro. Como se nunca tivéssemos nos afastado. Se bem que nunca fomos próximos, mas...
- Não se importa se sentarmos aqui, não é Frankie? – Sam sorriu.
- Já estão sentados mesmo. – murmurei.
- E então? Como está? – perguntou Sam, sem dar ouvidos ao que eu havia dito.
- Há meio segundos eu estava melhor. – murmurei novamente.
- Como? – perguntou.
- Nada. – respondi e dei uma mordida grande no meu sanduíche.
Joseph olhou-me de esguelha e sorriu um pouquinho.
- O que pretende fazer nesse final de semana, Frank? Estará livre amanhã? Quer sair com a gente? Ou podemos ir à sua casa? – Sam realmente não conseguia conter sua boca.
- Pretendo afogar pessoas que perguntam demais na privada. – respondi calmamente, com a boca cheia.
- Ah, que engraçada! – gargalhou.
Censurei-o com o olhar e ele parou de rir.
- Mas, e aí? Não quer sair com a gente mesmo? – pigarreou e insistiu na pergunta.
- Não sei... – engoli a comida que estava na minha boca, deixei o sanduíche de lado e pus um cotovelo sobre a mesa. – Se eu estiver livre... Quem sabe...
- Então podemos ir à sua casa?
- Não acho conveniente...
- AH, POSSO IR TAMBÉM, FRANKIEEE? – garota estranha aparece do nada novamente, juntando-se a nós à mesa. – Posso? Posso? – olhou para Sam e Joseph e sorriu. – Olá, garotos.
Assustei-me. Sam olhou para mim e fez olhar de “quem é essa maluca, Frankie?”.
- Espera! – levantei uma mão - Quem é você e como sabe meu nome? E não. Você não pode ir à minha casa. – fui dura na resposta.
- Ah, meu nome é Fernanda! – sorriu e continuou. – Ah, ouvi seu nome por aí. Mas por que não posso ir à sua casa também? – inclinou-se sobre a mesa, chegando mais perto de mim.
Levantei de supetão da cadeira. Arrastando-a.
- Porque não! – afastei-me de Fernanda. – Pronto! Ninguém pode ir à minha casa.
Joseph, Sam e Fernanda levantaram-se ao mesmo tempo. Dobrei a manga da minha camisa quadriculada e indiquei com a cabeça, sem que a maluca percebesse, a saída para o jardim aos garotos.
- Ah... Bem... Foi um prazer revê-la, Fernanda. – menti. – Agora, os garotos e eu, precisamos ter uma conversinha lá fora. Certo? – sorri e puxei Sam e Joseph pelos braços.
Deixamos Fernanda sozinha. Seu último olhar na nossa direção não foi interessante.
- Nada de ir à minha casa. Não acho favorável. Em hipótese alguma, não cheguem perto de lá. Entenderam? – Sam e Joseph ficaram à minha frente. Senti-me uma anã perto dos dois.
- Por que não? Não somos assaltantes, nanica. – disse Joseph.
- Engraçadinho. Há-há. – olhei-o e fingi um sorriso.
Houve um minuto de silêncio e Joseph falou novamente.
- E então? – cruzou os braços e inclinou-se para mim.
- E então o quê? – desequilibrei-me um pouco com sua aproximação.
- Podemos ir à sua casa? – sorriu.
Grunhi e o empurrei. Ele tombou uns dois passos para trás e gargalhou na direção de Sam. Fuzilei-os com os olhos, serrei os punhos e deixei os dois rindo no jardim.
- EI, NANICA! PARA UMA PESSOA PEQUENA, VOCÊ TEM FORÇA! – ouvi Joseph gritar.
Sério, naquele momento eu quis dar meia volta e acertar seu peito com uma voadora.
***
Entrei no meu quarto e arremessei minha mochila contra a parede, deixando uma rachadura na mesma. Andei até a janela e observei as folhas das árvores caindo. De repente, Stéph apareceu do outro lado da janela, com expressão de raiva. Assustei-me e recuei um passo, pondo uma das mãos sobre o peito.
- O que você ainda está fazendo aqui? Temos um vampiro para matar. – ela abriu a janela e puxou-me para fora.
Vi seu braço enfaixado e senti dó. Stéph viu para onde eu estava olhando e sussurrou.
- Não se preocupe com isso. Já melhorei. – desenfaixou-o e alongou o braço. – Vamos, temos que correr. – seus olhos verdes estavam misteriosos.
E foi isso que fizemos.
Corremos rápido.
Rápido até demais.
***
Não acredito nisso. Não acredito mesmo.
- Paul? – apertei meus olhos um pouco e aproximei-me.
- Há quanto tempo, Adamson! – sorriu, mostrando as presas afiadas.
Ai meu Deusuh que nanica brabah!!
legal ninda, mto bom mesmo!
Mas quem é Paul? tô curioso!!
massa linda!
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